Igreja de São Francisco

Uma das sete maravilhas de origem portuguesa do mundo

(Carlos Casaes e Carla Maria)  


         

A Igreja e Convento de São Francisco em Salvador, na Bahia, é classificada como uma das sete maravilhas do mundo de origem portuguesa, sendo, naturalmente, tombados pelo IPHAN. A igreja passou recentemente por um acidente, com a queda de parte do seu belíssimo teto com riquíssimas pinturas sacras. O fato causou um impacto muito grande, sobretudo entre os baianos, inclusive porque resultou no falecimento de uma turista que, eventualmente visitava a igreja no momento do acidente.

Numa localização privilegiadíssima, pois no Centro Histórico baiano, confronte à melhor perspectiva, vista desde o Terreiro de Jesus, é um dos monumentos mais visitados da capital baiana e foco de tantas tradições cotidianas dos baianos, e mesmo de turistas. Pois é seguramente a atração mais visitada de quantas constituem o acervo da “boa terra”. Ao lado de que algumas solenidades integram, da mesma sorte, os atos religiosos tradicionais. Ao lado de todas as missas por toda a semana, o ato mais tradicional é a benção das terças-feiras. Esse ato religioso se introduziu de tal sorte na vida dos baianos que se chegou a criar programas artísticos por conta dele, com é o caso da “Terça da Benção”, show programado por grupos responsáveis pela movimentação do Centro Histórico.

A tradição da “benção” às terças-feiras, inclusive, era mantida pela minha mãe que lá se encontrava toda as semanas, mesmo depois de virmos morar em Itapuã. Algumas tantas das quais eu à acompanhava.

Um verdadeiro centro de fé e de arte

Um dos aspectos mais curiosos da riqueza artística daquele monumento são os azulejos portugueses do século XVIII, os quais reproduzem o nascimento de São Francisco. Esse conjunto, inclusive, é adornado por talhas de madeira simplesmente moldados em ouro em pó, constituindo-se como um símbolo do barroco brasileiro. Entre todos aqueles elementos que ali se encontram, destaque para folhas, pelicanos, flores, anjinhos, entre vários outros. À riqueza artística extraordinária do conjunto acrescentam, inclusive, policromias de tantos mestres santeiros baianos, que se constituem em autênticas obras primas da arte sacra. Que, por sinal, convivem com peças em jacarandás esculpidos. Nesse conjunto, destaque, mesmo, para duas “pias” de pedra que foram doadas ao acervo pelo rei de Portugal D. João V.

Da mesma sorte como são destaque os púlpitos e o teto, onde se encontram consideráveis pinturas sacras, em que se deve destacar as imagens de São Pedro de Alcântara, São Benedito, São José, Coração de Jesus, Santo Antônio e São Francisco de Assis. Todos esses se encontram no altar-mor. Tendo, porém, do lado esquerdo, as imagens de N.S. da Conceição, N.S. da Glória, N.S. da Piedade, N. S. de Santana, Santa Luzia e São Domingos.

Há cerca de mais de 40 anos que o conjunto que integra as construções históricas de Salvador é tombado, bem assim reconhecido como patrimônio mundial da humanidade pelo mesmo período. Sobre o acidente do desabamento de parte do teto, a Defesa Civil registrou que mais outras cinco visitantes resultaram atingidas, as quais foram socorridas e enviadas a estabelecimentos hospitalares, mas apenas com ferimentos leves.

Convento fundado em 1585 pelos frades menores



O convento, que integra o conjunto de prédios, foi, na realidade, fundado pelos frades menores já em 1585, enquanto a igreja que, atualmente, é toda revestida em ouro teve a sua construção iniciada em 1708. Por sinal, entenda-se bem a sua importância, ao evidenciar-se que é considerada como uma as sete maravilhas de origem portuguesa no mundo. Todo o acervo de azulejos portugueses que se encontram nos seus diversos espaços provêm do século XVIII. A sua maior importância, inclusive, é que reproduzem, em verdade, o nascimento de São Francisco, todos eles, por sinal, adornados por talhas de madeira, por acaso, moldados em ouro em pó, em todos os seus símbolos do barroco brasileiro.

As imagens interiores são policromadas de mestres santeiros baianos, autênticas obras-primas de arte sacra, com destaque para o jacarandá esculpido, púlpitos e tetos com inúmeras pinturas sacras que convivem harmoniosamente com as tantas imagens. Inclusive, esse conjunto é registrado no Sistema de Informação para o Patrimônio Arquitetônico Português, sob o número 30673.

Do que se tem notícia, o Convento foi fundado, em verdade, pelo frei franciscano Melchior de Santa Catarina, Custódio de Olinda, Pernambuco, depois de receber a autorização do Papa Sisto V. Por acaso, naquele local já existia uma pequena capela ao lado de algumas habitações provisórias. Aconteceu naquele mesmo ano por conta de um convite do bispo D. Antônio Barreiros, o Custódio enviou irmãos a Salvador, na Bahia. Foram os frades Antônio da Ilha e Francisco de São Boaventura, com o objetivo de promover a instalação do convento. Como, da mesma sorte, começar a construção, cujas obras, na realidade, somente tiveram início em 1587.

Ocorre que adiante, mais precisamente em 1675, foi providenciada uma reconstrução sob a administração do Provincial Frei Vicente das Chagas o qual, por seu turno, autorizou ao Frei Daniel de São Francisco a adotar algumas providências no sentido de que fossem angariados donativos que se destinariam às obras. Ocorre que, com o “andar da carruagem”, a congregação alcançou razoável crescimento, por conta do que os novos edifícios tiveram que ser projetados em escala mais ampla.

Pedra fundamental em 1686

O início das obras do Convento e Igreja de São Francisco, em Salvador-Bahia, ocorreu precisamente no dia 20 de dezembro do ano de 1686, com o lançamento da “pedra fundamental”, sendo que o primeiro espaço a ser objeto da obra foi o claustro que, por sinal, obedeceu ao projeto de Francisco Pinheiro. Um pouco mais à frente, exatamente no ano de 1701, foi a vez de ser autorizada, também, a construção da igreja da Ordem Terceira. O que ocorreu juntamente com o cemitério e algumas outras dependências.


Obras de complementação foram identificadas a partir de 1705, quando se percebe terem sido inseridos revestimentos no claustro, como, da mesma sorte, identifica-se ter sido erguido o altar da enfermaria. Um pouco mais adiante, em 1710 é que foram concluídos os muros e lançados os primeiros pilares. Já se constata, pelos elementos históricos, de que os azulejos pintados, constantes da decoração, somente foram inseridos entre 1749 e 1752.

A capela-mor, por sua vez, somente veio a ter iniciada a sua instalação em 1708. No entanto em virtude do declive dos fundos do terreno houve necessidade de ser aterrado, com a colocação, inclusive, de alicerces. Coube, então, a Manoel Quaresma a função de supervisionar as obras tendo ele, posteriormente, e por sinal, sido sucedido pelo frei Hilário da Visitação, o que ocorreu em 1710. Todavia não está muito bem esclarecido no histórico do monumento quem foi o arquiteto do projeto. Admitem alguns que tenha sido mesmo o Francisco Pinheiro.

O que se constata mesmo é que o projeto teve que ser alterado, com a dispensa da gralilé, por conta do fato de que o Síndico do Convento, Francisco Oliveira Porto iniciara, no local, a construção de umas casas onde ele deveria ficar.

Antes da conclusão das obras, o acevo já funcionava

Já em 1713 estavam concluídas as obras da capela-mor, do arco do cruzeiro e até mesmo as paredes na localização onde ficariam os púlpitos, razão pela qual, ali, já se poderiam ser iniciados os cultos. Esse trecho, e verdade, foi consagrado no dia 3 de outubro daquele ano. Quando ao restante do corpo da igreja, em que estava incluída a fachada em arenito, só teve a sua conclusão em 1720. Ano em que, também, foi instalado o coro, por sinal, reaproveitada, que foi, da edificação anterior. As obras de decoração interna prosseguiram logo após.

Na sequência da construção foi que o frei Álvaro da Conceição teria determinado a conclusão dos pilares do próprio claustro. Por sua vez, a pintura de tantas criativas imagens no teto do templo ocorreu a partir de 1733, da mesma sorte como o retábulo de São Luís situado ao lado do arco do cruzeiro. E prosseguem o correr das datas para aquela magnifica obra: coube ao Frei Manoel do Nascimento promover o início da restauração do piso, para o que fora encomendado um retábulo de Nossa Senhora da Glória. Da mesma sorte identificado ao lado do cruzeiro.

Já as obras do próprio claustro ocorreram entre os anos de 1749 e 1752, com a inclusão também da biblioteca. A partir de então foi concluído o altar e a portaria, em que se instalaram os azulejos a seguir, em 1782. A construção das torres do conjunto ocorreu entre os anos de 1796 e 1797, local onde foram instalados os sinos e o relógio. O que mais demorou foi o revestimento de pedras azuis e brancas nos coruchéus, pois somente vieram a ocorrer cerca de um século depois.

Igreja e convento em um conjunto histórico

O que se pode aduzir é que a igreja e o convento constituem, em verdade, um conjunto de edifícios históricos, extremamente ricos e singulares. Sobretudo em virtude, inclusive, da decoração interna toda revestida de ouro. Conjunto que tem, ao lado, a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, que se constitui em um magnífico exemplar da tradição barroca no Brasil. Cuja fachada é ricamente trabalhada com decoração em alto relevo da mesma sorte tombada pelo IPHAN. Razão de constituir, na verdade, parte de um dos mais expressivos conjuntos monumentais de Salvador, na Bahia.



A Igreja de São Francisco, por sua monumentalidade, é um dos templos preferidos para casamentos, tendo, inclusive, custo especial, a depender, inclusive, de uma série de fatores. A exemplo do exato local onde ocorra a  solenidade, a própria frequência de procura, bem assim com respeito ao horário preferido. Às 18:00 horas, por exemplo, um casamento terá o custo de R$2.800,00, enquanto duas horas após, 20:00 horas, pois, o valor alcança R$3.800,00 a R$4.800,00. Evidente de que esses valores são alterados na forma em que a inflação atue.

No que respeita à solenidade das missas, o horário habitual indica que aos domingos e feriados ocorram à 08:00, 10:00, 1600 e às 17:30 horas. Já às sextas—feiras passam para somente as 17:30 horas, enquanto de segunda-feira a sábado, ocorrem às 09:00 e 17:00 horas.

O símbolo dos Capuchinhos


Embora todos, sobretudo os próprios baianos, convivam diariamente e admirem a Cruz de Mármore que constitue um marco bem em frente à Igreja e Convento de São Francisco, em Salvador, é, na realidade, um símbolo dos templos dos Capuchinhos da época em que foi erigida, entre 1805 e 1808. Mas, o que causa até mesmo certo espanto aos que lhe visitam, sobretudo pela primeira vez, é o fato do interior da igreja ser todo recoberto em ouro e jacarandá, cujas talhas retratam anjos, animais e flores. Além disto, da mesma sorte, são extremamente surpreendentes aos que contemplam toda aquela obra os numerosos painéis de azulejos em tons azul, tanto na entrada quanto no altar, bem assim na sacristia. Retratam cenas alusivas tanto a São Francisco de Assis. São peças que foram pintadas por Bartolomeu Antunes de Jesus, que foi, nada menos do que um dos grandes mestres da azulejaria portuguesa, e cuja origem é de 1686. Aqueles azulejos constituem, na verdade, a consagração de um projeto do Padre Vicente das Chagas.

No século XX, os edifícios históricos, como aqueles, sofreram intervenções de restauro em inúmeras ocasiões.  O que se pode observar é que a planta da Igreja é, na verdade, um elemento incomum entre as edificações franciscanas no Nordeste Brasileiro, pelo fato de que, na realidade, conta com três naves. No entanto, o que ocorre é que os desenhos reais que se admitiam à época contavam com simplesmente uma nave. Por outro lado, observam-se de que a fachada tem influência maneirista, possuindo duas torres laterais e mais uma coluna central, cuja decoração especial encontra-se no frontão.

Por seu turno, no interior da nave, a superfície, ou seja, paredes, colunas, teto, capelas, são todos revestidos de complicados detalhes e douraduras, em torno de florões, frisos, arcos, volutas, convivendo ao lado de inúmeras figuras de anjos e pássaros espalhados por inúmeros locais. Como também são inúmeras inscrições moralistas em torno. Por tudo isto é considerada uma obra das mais significativas do Brasil. Até em virtude do seu teto, onde se encontram pinturas sacras do Frei Jerônimo da Graça, consideradas como tendo sido elaboradas entre 1733 e 1737.

Os valiosíssimos painéis de azulejos

O Convento é o prédio adjacente Igreja, cuja construção foi concluída em 1752 e é onde se encontram inúmeros painéis de azulejos, sendo esse o conjunto mais significativo de todo o grupo. Os azulejos podem ser admirados na parte interna do Claustro, pois é onde se encontram nada menos do que 37 painéis, cada qual com cerca de 2 metros de altura, e os quais retratam cenas em gravuras que são do pintor holandês OTTO VAN VEEN. Ali podem ser contempladas passagens da mitologia destacadas em cenas edificantes, sobretudo com epigrafes latinas do poeta e filósofo Horácio.

Por fim, é de observar de que o Convento foi edificado em torno de um claustro quadrado, contando com um sub-solo e dois pavimentos sobre o nível da rua. Até mesmo a portaria lateral conta com painéis em pinturas ilusionistas no teto. As quais são atribuídas a José Joaquim da Rocha, e são da metade do século XVIII.

Comentários

  1. Magnifica matéria, um artigo muito bem descritivo, que nos leva ao local. Entendi que "minha mãe" era a querida Teresa? estou certa?

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