A violência no futebol, um fato recorrente

(CARLOS CASAES e CARLA MARIA)

Um fato que vem ocorrendo com frequência nos últimos anos é a violência no futebol. Mas não simplesmente nos limites das quaro linhas dos campos e sim entre as torcidas, mas não simplesmente dentro dos próprios estádios bem assim, também, fora deles, nas ruas e avenidas das diversas cidades. O último desses incidentes – com relação ao momento em que relatamos esses fatos – aconteceu ontem, dia 10 de novembro, durante a competição entre o Atlético Mineiro e o Flamengo, em jogo decisivo pela Copa do Brasil.


Lamentavelmente, a violência ocorreu ainda antes da competição, entre as duas torcidas, mas se transportou até o interior do “Mineirão”, quando a torcida do “Galo”, inconformada com a já possível derrota da sua equipe, promoveu o maior tumulto. Agressões que chegaram a atingir, com uma bomba, a um fotógrafo de cerca de 70 anos, que foi obrigado a se hospitalizar e se submeter a exames e intervenções hospitalares. Todo o tipo de artefato foi, inclusive lançado em campo, com torcedores ameaçando invadir o gramado.

Decepcionante a torcida do Atlético

As lastimáveis cenas se agravaram quando a torcida atleticana enfrentou, inclusive, a equipe de segurança que tentava evitar um mal maior. Até mesmo os atletas mineiros, liderados pelo próprio HULK que quase chegou a ser atingido por objetos de toda a sorte lançados pelos torcedores enfurecidos, em momento em que, em frente à multidão exaltada, tentava acalmar os ânimos. A fúria incompreensível se acentuou depois do tento que o atleta GONZALO PLATA logrou consignar, que estava garantindo a conquista do título pelo rubro-negro carioca.

 No entanto, a confusão chegou a ser estimulada mesmo quando os próprios jogadores atleticanos, inconformados com a derrota “anunciada”, criaram um certo tumulto com os seus adversários, já no final do segundo tempo. Enquanto os integrantes do sistema de segurança e dirigentes tentavam conter a inconformação dos alvi-negros, nas arquibancadas, a massa ameaçava invadir o gramado. Oportunidade em que, lançando todo o tipo de objetos em campo, a confusão chegou ao auge.

Consequências da confusão


A gravidade do que ocorreu na Arena MRV, em Belo Horizonte, tem a sua dimensão revelada na decisão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) que interditou a arena, embora em caráter provisório, razão por que o Atlético terá que direcionar os seus próximos compromissos para outro estádio. Outro fator da decisão é que os próximos encontros do Atlético com mando de campo terão que ocorrer com “portões fechados”. Foram, inclusive, concedidos dois dias para que o clube se manifestasse. Essa decisão permanecerá até que a agremiação mineira comprove ter adotado medidas logísticas, estruturais, administrativas e disciplinares necessárias e suficientes para garantir a segurança indispensável.



Essa é uma ocorrência que não é novidade, sobretudo no Brasil. Têm sido inúmeros e recorrentes os momentos de distúrbios envolvendo torcidas de diversas agremiações e em várias partes do país. Antes mesmo já se testemunhara o embate entre as torcidas do Palmeiras e do próprio Flamengo, numa competição entre as duas agremiações. Nesse caso, o fato foi de tamanha gravidade que aconteceram ferimentos de diversos torcedores e até mesmo causando a morte de uma jovem. Esta ocorrência verificou-se no próprio Allianza Parque, do alviverde.

O Palmeiras novamente como protagonista

Ainda em jogo do próprio Palmeiras, de outra feita, contra o São Paulo, mas este já no Morumbi, o incidente voltou a acontecer.  O palco de toda a violência foi a estação da linha 4, no metrô paulistano e se verificou no dia 5 de julho passado. O vandalismo alcançou tal limite que catracas, painéis publicitários, escada rolante, e um gradil metálico foram alvos da extrema e descontrolada violência. A mesma agressividade verificou-se na estação Pinheiros do metrô, onde uma escada rolante também foi danificada.

Em outro momento, o destempero de torcedores materializou-se numa agressão de que o atleta Luan, do Corinthians, foi alvo, quando se encontrava num motel. Ainda em competição do mesmo Corinthians, dessa feita contra o Santos, o jogo teve que ser interrompido antes do seu tempo normal, em razão da torcida santista, em massa, arremessar bombas e sinalizadores no gramado. Naquela mesma competição, e um pouco antes, o goleiro Cássio chegou a ser agredido, por conta de rojões que foram lançados em sua direção pela torcida adversária. Naquele jôgo chegou também a haver invasão de campo.

“Mancha Verde” versus “Máfia Azul”

Direcionemo-nos para o encontro entre Cruzeiro e Palmeiras para lembrar quando a “mancha verde” enfrentou a “máfia azul”. Naquela oportunidade, os torcedores cruzeirenses viram-se atingidos por uma briga em virtude de ter sido atacado o ônibus que conduzia a delegação mineira, à altura do km 593 da rodovia Fernão Dias, imediações de Mairiporã.

As irregularidades, em razão da fúria de torcidas, não se interromperam ali. Admiradores do Vasco da Gama, não aceitando a derrota da sua equipe diante do Goiás, na própria arena vascaína, Estádio de São Januário, criaram o maior tumulto arremessando sinalizadores para dentro do campo, contra os atletas adversários. 

Estatísticas extremamente lamentáveis


E vamos além: as estatísticas nos informam de que, no período de 1988 até os nossos dias, aconteceram, pelo menos, 384 mortes relacionadas com jogos de futebol. Quem quase ilustrava essa estatística foi o, então, lateral esquerdo do Palmeiras, JORGE, que teve o seu carro danificado por torcedores adversários. Isto no ano de 2022. Pesquisando-se cuidadosamente, facilmente é possível encontrar cerca de 40 casos de confrontos entre torcidas adversárias e policiais.

Um outro fato bastante emblemático foi quando torcedores uruguaios do Peñarol, na praia do Recreio, no Rio de Janeiro, saquearam quiosques, incendiaram moto e ônibus, no dia do jogo em que a sua equipe iria realizar contra o Botafogo. A competição daquele dia seria a semifinal pelo torneio da Libertadores. Os uruguaios utilizaram-se para as tantas agressões pedaços de madeira e de ferro. Nada menos do que cerca de 200 torcedores do país vizinho foram detidos em confronto que provocaram contra a polícia carioca. Até mesmo gasolina foi empregada para incendiar os veículos. Nas surpreendentes agressões aos ambulantes daquela praia, utilizaram-se de pedras, cadeiras, mesas e tantos outros objetos. Aquele entrevero foi de tal envolvimento que chegaram a ser empregados, para conter a sanha dos uruguaios, ambulância e helicóptero. Por consequência também daquela confusão, nada menos do que cerca de 200 torcedores uruguaios, do grupo, foram detidos pela polícia carioca.

Os HOOLIGANS também aconteceram


Mas, a partir década de 1960, talvez o primeiro grande caso de perturbação de torcedores em confrontos internacionais de futebol tenha ocorrido. Naquela oportunidade, envolvendo os HOOLIGANS, grupo de “baderneiros” ingleses. Precisamente em 1985 aconteceria a partida final quando deveria ser conhecida a campeão da Eurocopa. Estava programado o encontro entre Liverpool (inglês) e Juventus (italiano), que ocorreria no estádio de Geisel, na Bélgica. Naquela competição, por conta da extrema perturbação dos Hooligans, uma tragédia contabilizou nada menos do que 39 pessoas que morreram, deixando também cerca de 600 feridos. A consequência da autêntica guerra, os Hooligans usaram nada menos do que barras de ferro para agredir aos torcedores italianos.

Em razão do tumulto ter sido promovido pelos torcedores ingleses daquele grupo, a UEFA aplicou punição no futebol da Inglaterra, com a medida de proibir todas as suas equipes de participar de competições europeias durante nada menos do que 5 anos. Por seu lado, o governo britânico decidiu punir o grupo responsável pelo terrível acontecimento, além de identificar os seus integrantes e banir os Hooligans de todos os jogos em seus domínios. Por outro lado, promoveu também reforma nos estádios, buscando evitar a repetição de fatos semelhantes, além de responsabilizar as agremiações para assegurar a segurança interna dos estádios.

Aconteceram, mas também desapareceram

Para que se entenda a ocorrência daqueles momentos, tais agremiações que se denominavam de HOOLIGANS eram, à época, uma parcela da cultura inglesa e europeia. Mas, fora da Inglaterra, a sua existência era rara. Enquanto em outros locais foram conhecidos outros tipos de torcidas. Existem, por exemplo, as Ultras no restante da Europa, que rivalizam com as Barra Brava na América Latina. No Brasil são as “torcidas organizadas” que representam os seus respectivos clubes. Essa expressão pode ser que esteja sendo deturpada ultimamente.

Quanto à expressão HOOLIGAN, é uma palavra de origem incerta. Fato é que, no dicionário da língua inglesa, Oxford, pode ser que esteja relacionada com um conhecido sobrenome: HOOLIHAN, que é de um personagem brigão irlandês revelado por uma série de tirinhas de um jornal inglês, ou então como sobrenome de um propalado ladrão irlandês da época: PATRICK HOOLIHAN. Tudo isto ao lado de outras hipóteses menos festejadas.

Acorda sociedade!!!



A grande verdade é que esse é um problema muito sério que está comprometendo algumas torcidas de clubes brasileiros. Eu entendo que nenhuma ação vem sendo promovida no sentido de estimular a esses grupos – realmente de desordeiros – de que o esporte existe para divertir, até mesmo para educar. Nunca para que se o identifique como fato de vida ou morte. O esporte nasceu om o objetivo de proporcionar o aperfeiçoamento do corpo humano. Com o seu advento, a seguir, passou a ser admirado e praticado, também, como entretenimento, até ser profissionalizado.  

Na minha opinião, está tardando muito para que os diversos segmentos da sociedade, entre eles os meios de comunicação e os próprios órgãos governamentais – em todos os níveis - promovam campanhas de esclarecimentos, principalmente levando em conta e evidenciando de que todas as competições somente podem provocar uma das três opções: vitória, derrota ou empate (este último caso no futebol). Qualquer das três é absolutamente natural e compreensível. Somente os vândalos e desordeiros valem-se da violência para manifestar suas preferências. Sobretudo, devem-se fiscalizar rigorosamente as denominadas “torcidas organizadas”, que podem existir e atuar no sentido de estimular os seus integrantes a torcer com entusiasmo, mas com equilíbrio. Aceitando sempre qualquer que seja o resultado das competições como um fato absolutamente natural. Convivendo pacifica e elegantemente com os adversários. 

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