Famiglia Mantini,

Uma das principais atrações gastronômicas de São Paulo

O melhor da cozinha italiana no centro da cidade

(Carlos Casaes e Carla Maria)

 

Viajar sempre foi um dos meus maiores fascínios. Desde criança habituei-me a viajar com os meus pais, inicialmente, pelo interior da Bahia. Ainda estudante, no Colégio Estadual da Bahia (Central) tive a minha primeira experiência interestadual, quando visitei a capital sergipana, ARACAJU, na companhia de alguns colegas. Ao atingir a maioridade, exatamente quando fiz 18 anos, ganhei o meu primeiro “périplo” de alargamento das minhas ambições. Fui ao Rio de Janeiro com o meu saudoso irmão HELIO. A partir de então, não parei mais de viajar pelo Brasil e por todo o mundo.


Em 1966, fui afortunado ao ganhar a companhia que me seria eterna pois, mesmo hoje, depois de que ela seguiu para as “graças de Deus”, permanece em minha companhia, ainda que em inesquecível memória: a sempre amada TERESA. E, para minha maior satisfação, constituiu-se na minha constante parceira, seguindo-me por toda a parte do mundo que eu elegesse para as nossas vilegiaturas. Foi, pois, por volta dos anos 70 e 80 que visitei São Paulo junto com ela, mais uma vez. Ali ocorreu uma descoberta que, ainda hoje, permanece nas minhas preferências: o restaurante italiano Famiglia Mancini.

Encontrávamo-nos hospedados, então, num hotel que ficava bem em frente à rua Avanhandava. Numa das noites, decidimos buscar para atender ao nosso apetite um restaurante que contemplasse a cozinha italiana (vale lembrar de que TERESA era filha de italianos). Verificamos, então, de que, naquela artéria, em frente do hotel, havia um estabelecimento com aquelas características. Era o Gigeto. Ao seguirmos para ali, identificamos de que, bem um pouco abaixo, havia um outro, igualmente na mesma categoria, que nos pareceu mais agradável.

Foi ali, precisamente, a nossa descoberta pelo Famiglia Mancini. A partir de então, passou a se constituir no endereço da nossa preferência sempre que visitamos a capital bandeirante. Porque atraiu-nos a qualidade do seu serviço. Desde a atrativa mesa de frios, os antepastos que eram, e continuam a ser, sempre uma “tentação”. Ao lado de um cardápio que me permitia degustar os maravilhosos sabores, sobretudo do seu “caneloni”, o prato italiano da minha preferência, ao lado das “pizzas” de todos os formatos.

Um retorno adornado pela preferência



Após cerca de 10 anos, espaço de tempo desde que TERESA nos deixou, decidi voltar a realizar um novo périplo pelo sul, de carro e na belíssima companhia das filhas CARLA e HELGA, bem assim da neta LORENZA e do genro BETO. Nosso destino mais ao sul seria são Paulo, como ocorreu. Viagem de roteiro que nos permitiu agradabilíssimas surpresas, como o encontro com os parceiros SERGIO MOREIRA, em Belo Horizonte, e ARNALDO MOREIRA, no Rio de Janeiro, com as suas encantadoras companheiras, AUREA e LANA, respectivamente (o curioso é que não são parentes, mas amigos diletos). Foi em São Paulo que, mais uma vez, busquei, com o grupo, as delícias daquele espaço que me sugeriria e lembraria tanto a parceira das muitas anteriores oportunidades: a culinária especial do FAMIGLIA MANCINI.

Aquela noite foi de especial surpresa, pois, ao alcançarmos a rua Avanhandava, espantou-nos o fato de que não existia mais um “FAMIGLIA MANCINI”, mas alguns restaurantes com a mesma “grife”. Inclusive e primeiramente o próprio e antigo Gigeto”. Ao tentarmo-nos dirigir ao tradicional e especial restaurante, outra agradabilíssima surpresa ao verificarmos que a frequência era extraordinária, inclusive porque tivemos que esperar um pouco para conseguir uma mesa para nós 5. Surpreendeu-nos muito mais o fato de que naquele especial espaço encontravam-se nada menos do que cinco, 5, restaurantes com a mesma grife: “FAMIGLIA MANCINi”. E todos com a mesma impressionante frequência, ou seja, lotados.   
 

Curioso como o acaso gera uma bela história

A verdade é que o restaurante com essa grife surgiu praticamente por acaso, como relata o seu criador e proprietário Walter Mancini. Ele não tinha, na verdade, qualquer experiência no particular, uma vez que, ainda aos 17 anos, trabalhava na noite paulistana. Na realidade, foi à época em que reinavam todo poderosas as discotecas. Na cidade de São Paulo, elas pontilhavam principalmente no centro, ao lado, inclusive, dos tantos teatros, bem assim e até de emissoras de televisão. Como foi o caso, por exemplo, da TV Excelsior.



O próprio Walter Mancini admite que, à época, ainda não possuía, como ainda hoje, uma formação compatível. Por algum tempo, desfilou por diversas casas noturnas bandeirantes e a sua vida, até mesmo, no momento era de dificuldades financeiras. Razão pela qual manifesta mesmo de que a sua residência era nada mais do que um apartamento “quitinete”. Assegura até que havia, então, certa carência de recursos que lhe proporcionassem os meios para a manutenção da sua “pousada”.

No entanto, o “acaso”, nada mais nada menos do que o “acaso”, seria determinante para uma mudança radical em sua vida. Tanto profissional, quanto empresarial, sobretudo financeira. Ele, à época, percebeu que havia na rua Avanhandava um restaurante com o nome de Zi Tereza, por sinal e precisamente no mesmo imóvel onde hoje se encontra o atual Famiglia Mancini. Ocorre que aquele estabelecimento encontrava-se exposto à venda, sobretudo porque, no mesmo endereço, já haviam funcionado alguns outros estabelecimentos do mesmo nível, sem, contudo, conseguirem prosperar.

As oportunidades surgem mesmo pela coragem


Um elemento que mostra como a vida assume determinados caminhos inesperados, WATER MANCINI encontrou uma oportunidade de mudar de atividade, idealizando a aquisição daquele espaço. Para tentar atingir aquela pretensão, foi buscar junto a um amigo a possibilidade de conseguir os recursos necessários para a compra. Confiante na sua capacidade de desenvolver com sucesso qualquer atividade que lhe fosse permitida, conseguiu o empréstimo que se destinaria apenas à entrada do valor total.  

Amigos, quando verdadeiros, confiam e proporcionam a possibilidade de alguém buscar os caminhos do sucesso. Assim ocorreu. O amigo não simplesmente permitiu-lhe os recursos necessários, mas garantiu que o ressarcimento ocorresse quando conseguisse assegurar o êxito na nova iniciativa. E do modo como, então, pudesse ressarcir-lhe.

Por consequência, foi que, no mesmo espaço, decidiu destinar ao novo restaurante a denominação de FAMIGLIA MANTINI.

Até porque, e então, buscou na própria família o apoio para a consecução do seu objetivo. Para viabilizar o funcionamento, conseguiu que a própria mãe assumisse a responsabilidade pela cozinha, enquanto encarregou a uma tia a função do caixa. Ele próprio, por conseguinte, seria o intermediário com os clientes no salão. Vale lembrado de que, àquela época, ele se encontrava precisamente na idade de 38 anos, após inúmeras investidas sem maiores consequências.

Santa Luzia como padroeira

As belas e curiosas histórias sempre ocorrem, como já manifestado, por acaso. Está aí, precisamente, a razão de ter adotado a Santa Luzia como a padroeira do novo estabelecimento. E ocorreu sem que, de forma alguma esperasse. O fato foi que ao encontrar uma imagem da Santa Luzia no porão daquele prédio, logo após ter realizado o contrato de aquisição da casa, lembrou do hábito das italianas do Brás, bairro que foi onde nasceu. É que as italianas costumavam andar por aquelas artérias distribuindo o santinho de Santa Luzia, protetora dos olhos, aos passantes.


Adotou aquela imagem, então, como a patrona do novo espaço, depois de emoldurá-la e destinar-lhe uma especial posição logo à entrada do novo estabelecimento. Com o objetivo de que a sua nova casa estivesse sempre abençoada.

Com todos os cuidados que decidiu destinar ao novo restaurante, conseguiu, espontaneamente, que o local onde se encontrava fosse, em verdade, transformado num autêntico e novo ponto turístico da cidade de São Paulo. E o fato muito curioso e interessante, também, é que tudo foi acontecendo sem que ele recebesse qualquer atenção dos poderes públicos, como, no caso da própria Prefeitura. É que, para emoldurar com um perfil que conseguisse um destaque para o local, chegou a instalar ali em frente uma fonte e um sistema de iluminação bem destacado.

Até o Bixiga chegou a entrar nas cogitações

Uma outra questão, da mesma sorte, muito curiosa, foi que a sua iniciativa em modernizar a rua Avanhandava resultou, como consequência, a atitude do sub da Prefeitura, na Praça da Sé, ANDREA MATARAZZO, em lhe sugerir adotar ações no sentido de melhorar as condições do bairro do Bixiga que, segundo aquela autoridade, se encontrava na UTI.

“Pegando o pinhão na unha”, o Walter idealizou que fosse estabelecido um pontilhão da própria Avanhandava e até o Santo Antônio, levando, por acaso, em consideração o fato de que o Bixiga é atravessado pela avenida Nove de Julho, um dos locais mais utilizados pela circulação dos automóveis. Aquele novo espaço encontraria a própria rua Treze de Maio. A mesma sugestão apontava a validade do ressurgimento, ali, dos antigos “bondes”. A sua proposta entendia de que a ideia resultaria no estabelecimento mesmo de uma “pequena Itália” destinada à colônia daquela nação europeia.

O Walter, por conta da sua autêntica ousadia, foi considerado como um perfeito louco. Contrariando os que não acolheram a sugestão, o Walter buscou num urbanista a opinião técnica para estabelecer o projeto. O que foi, por sinal, realizado, mas que não obteve prosseguimento simplesmente por um pormenor: a necessidade de colocar a fiação subterrânea. Foram, daquela forma, promovidos contatos com algumas outras autoridades, como a MARTA SUPLICY, o próprio KASSAB e o HADDAD. Até hoje o projeto está à disposição de quem o queira operacionalizar.

Como transformou a rua num autêntico ponto turístico


Sem qualquer dúvida, inclusive para todos que circulam pela artéria, a rua onde se encontram os seus restaurantes foi transformada num precioso e novo ponto turístico da capital bandeirante. Para realizar o projeto teve que disponibilizar, de começo, um empréstimo do cartão Visa, num total de quatrocentos e quarenta e cinco mil reais. No entanto, pelo fato do projeto ser realmente ambicioso, a verdade foi que teve que dispor, então, de nada menos do que dois milhões de reais.

Sem contar com qualquer apoio da Prefeitura, hoje disponibiliza até os seus próprios empregados - os que integram a equipe responsável pela manutenção do restaurante - para promover a conservação do espaço público. O seu jardineiro é que é o responsável por todos os cuidados com as plantas que ornamentam o local, como também os demais cuidam de manter estruturada, por exemplo, a própria iluminação.

As mensagens dos clientes que envia pelo Correio


Uma outra questão curiosa e também ousada foi fruto da ideia do Walter: de proporcionar a todos os seus clientes o envio de mensagens a parentes ou amigos, a partir do próprio restaurante, responsabilizando-se pelas despesas do Correio. E essa sua iniciativa teve, em verdade, inspiração na sua infância, quando, ao passar pelas bancas de revistas, encantava-se com os postais de São Paulo expostos. Foi daí que surgiu a curiosíssima, original e inédita ideia de proporcionar a todos os seus clientes um impresso em que eles destinam a pessoas amigas ou familiares, com a inscrição de “Lembre-se de quem você gosta. Envie esse postal”. Na entrada do restaurante há uma caixa do correio onde todos os cartões são colocados para o envio imediato. O selo é por conta do próprio restaurante. O mais curioso, ainda, é que os cartões são enviados para toda a parte do mundo. Ainda mais surpreendente o fato de que, dos cinco postais que nos foram oferecidos na noite em que ali jantamos, já soubemos de que, pelo menos dois deles, já atingiram o seu destino, foram recebidos. Aguardamos a notícia de recebimento dos demais.

Uma sacada de “marketing”, além de inédita: muito inteligente.

 O mercado central como inspiração

Uma outra fonte da sua criatividade foi o estabelecimento de um “buffet” de frios, o considerado antepasto, que seria disponibilizado aos clientes e cujo critério de custo seria através do peso, de uma balança, pois. Ele foi buscar para inspiração da ideia a imagem do Mercado Central que exibia em todas as suas barracas todos os produtos que comercializava, como ocorre ainda hoje.

Naquele caso, todos os produtos no Mercado eram, como são ainda atualmente, vendidos na forma da pesagem, da balança. No entanto, no começo, o custo do prato de frios, no restaurante, era fixo: de dia um valor, à noite outro. Questionado em virtude daquela situação esdrúxula de dois valores diversos, um de dia e outro à noite, decidiu encontrar uma outra solução. Foi ali que lembrou do funcionamento do Mercado e introduziu, então, aquela forma sui-generis para um restaurante. Hoje, a mesa dos frios constitui um dos responsáveis também pelo extraordinário sucesso do próprio restaurante.

Se ainda conseguirmos retornar a São Paulo, sem dúvidas, o único endereço que constará necessariamente do nosso roteiro será o FAMIGLIA MANTINI.  

Esta matéria foi fruto da nossa própria experiência, bem assim de pesquisa em publicações várias.




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