Uma volta ao glorioso passado

(CARLOS CASAES e CARLA MARIA)

Salvador, na Bahia, está em vias de uma simplesmente espetacular conquista, com a recuperação e restituição de um dos grandes ícones do seu passado glorioso: o denominado “Palacete do Tira-Chapéu”. Precisamente na esquina da rua que lhe empresta o nome – Tira-Chapéu – e ao outro lado do também histórico prédio da Câmara de Vereadores, compondo um conjunto de edificações centenárias na Rua Chile (com a qual também faz esquina), está surgindo um importantíssimo centro gastronômico e espaços de lazer.

Antiga sede da, já não existente, Associação dos Empregados do Comércio da Bahia, é uma das iniciativas que tem por objetivo restaurar a excepcional vitalidade da Rua Chile, que, entre os anos 40 a 60, foi seguramente o local mais privilegiado da sociedade baiana. Onde se encontravam as principais atrações comerciais da cidade, a exemplo de magazines, restaurantes, hotéis e tantos mais, integra um movimento que objetiva restituir à cidade um dos seus maiores atrativos históricos.

Revitalização de estratégica área do Centro Histórico

Edifício materializado graças ao projeto do arquiteto italiano Rossi Baptista – o mesmo que concebeu a famosa residência dos Catarino, no bairro da Graça (onde hoje está instalado o Palacete das Artes Museu Rodin) – tem a sua imponência restaurada. Cada um dos seus espaços conserva a imagem de um momento especial da cidade, época em que era por demais importante o uso de adornos nas paredes, tetos, portas e janelas.

O maior significado da sua revitalização consiste no fato de que a Rua Chile se constituiu no verdadeiro palco do protagonismo da família baiana, durante décadas. Idealizado pelo comendador Martins Catarino, que o doou à Associação dos Empregados do Comércio da Bahia. Aquele especial centro de compras compôs um quadro em que se destacavam hotéis (Pálace – primeiro hotel de luxo da cidade, inaugurado em 1934 - Chile e Meridional), magazines – Duas Américas e Florensilva – lojas – Sloper, Casa da Música (Milano), Africanas – lanchonete “O Adamastor” (do pai do cineasta Glauber Rocha), Farmácia Chile, Confeitaria Chile (a qual, nunca raro promovia shows até internacionais – como a apresentação da orquestra cubana de “Lia Ray e seus mambo dandines” - Bar e Restaurante “O Triunfo”, Livraria Civilização Brasileira, a também famosa lanchonete “A cubana” (na parte alta do Elevador Lacerda), Alfaiataria Spinelli (Adão não se vestia porque Spinelli não existia), Casa de Chá das Duas Américas (onde eram apresentados espetáculos musicais ao vivo  com o seu “piano-bar, com destaque para o conhecido maestro e pianista EDUARDO RAMOS, também titular do elenco da Radio Sociedade da Bahia) e Café da Bernadete, dentre outras atrações.


À época, a Rua Chile constituiu-se no ponto preferido da família baiana para, sobretudo aos domingos – além das compras da semana – realizar os famosos “footings”, especialmente na saída dos cinemas que lhes ficavam próximos: Guarani, Glória, Excelsior e Liceu. Após o que, quase sempre era indispensável um lanche na Cubana (milk-shake e seus famosos bolinhos).


Vale a observação de que o Palácio Rio Branco, que fica em frente ao Palacete Tira Chapéu, e na esquina ao lado do Elevador Lacerda, em breve se transformará num importante hotel de luxo, o Hotel Rosewood. O que constitui mais uma iniciativa inserida no projeto de revitalização do Centro Histórico, especialmente nesse espaço.



A tradição da Rua Chile


Com a sua extrema vitalidade - até que a Avenida Sete de Setembro, e desde a Praça da Piedade e até São Bento, lhe “roubou” a grande evidência - tem extensão de tão somente 400 metros. Segundo nos conta a história, teria, inclusive, sido a primeira rua do Brasil, surgida já em 1549. Está situada entre a Praça Castro Alves e a, também, Praça Tomé de Souza (Praça Municipal).

Na primeira encontra-se a tradicional estátua de Castro Alves, em frente da qual está o cinema Glauber Rocha (antigo Guarani) e o Hotel Fasano, um pouco mais acima. Na segunda, o tradicionalíssimo Elevador Lacerda, os históricos prédios do Palácio Rio Branco e da Câmara de Vereadores (prédio que já abrigou, também, a sede da Prefeitura), enquanto no lado direito do Elevador está a novíssima sede da Prefeitura de Salvador (onde pontificaram durante décadas os belos prédios da Empresa Gráfica da Bahia e da Biblioteca Pública).

Sem a menor dúvida, àquela época - século passado - constituiu-se no ponto mais elegante da capital baiana. Algumas características que lhe foram especiais podem ser anotadas, como a de que, nela, passou a primeira linha de bonde elétrico da cidade, como, da mesma sorte, foi nela que os baianos usaram pela primeira vez uma “escada rolante”, no Magazine Duas Américas.

O que aconteceu em 1958. Curiosamente, foi ali que se instalaram, da mesma sorte pela primeira vez, os primeiros postes de luz a gás. Como foi nela que se inaugurou, em 1915, o primeiro hotel: o Meridional (onde hoje se encontra, hoje, o Edifício Bráulio Xavier).

Na realidade, a sua denominação de Rua Chile não foi a primeira. Vários outros nomes lhe fizeram conhecida, como Rua Direita dos Mercadores e Rua Direita do Palácio. O nome pelo qual ainda hoje é proclamada e que a notabilizou - Rua Chile - data de 1902. E a curiosidade foi que ocorreu por conta, estranhamente, de uma homenagem à Marinha de Guerra do Chile. E decorreu do fato de ter acontecido no Rio de Janeiro, já capital do país, uma epidemia de “peste bubônica”. Em consequência, foram contaminados e faleceram vários funcionários da Embaixada do Chile no Brasil. Então, navios chilenos vieram resgatar os corpos. E, para amenizar a decepção da infausta ocorrência, Salvador decidiu prestar aquela homenagem, denominando, então, a sua principal artéria com o nome do país amigo.

Um belo complexo previsto já para início do próximo ano

O prédio, em estilo eclético, foi construído em 1917, tem a sua abertura prevista para janeiro próximo. Estará integrado por inúmeros atrativos, como espaços menores destinados a diversas situações, inúmeros restaurantes (tanto da Bahia como de São Paulo), estes postados nos espaços principais do piso térreo. A sua restauração vem sendo processada desde o ano passado e a sua abertura ocorrerá por etapas.

Realizam e patrocinam essa importante obra a Elysium Sociedade cultural, bem assim a operadora de cartões e crédito Elo, valendo-se da então vigente, “Lei Rouanet”. Ainda permanecerão em obras de restauração os dois andares de cima, uma vez que os cuidados são muito especiais, em virtude do volume de sensíveis elementos da decoração, a exemplo de afrescos e pinturas, que, da mesma sorte, estão sendo restaurados.

Será um investimento inicial em torno de R$20 milhões, num primeiro momento. Os trabalhos já concluíram a parte da fachada, bem assim do telhado, o próximo passo tem sido o momento mais cuidadoso, com o tratamento especial aos elementos tantos da especial decoração, o que inclui a restauração de pinturas, dos forros, do revestimento das paredes e dos pisos. Com a conclusão de todos os andares superiores, o Palacete Tira Chapéu estará constituindo o espetacular centro gastronômico. Será mais um passo para a revitalização da Rua Chile e seu entorno, onde pontificarão especiais restaurantes, espaços destinados a eventos de toda a sorte, bem assim para exposições, notadamente de artistas em início de carreira, como ainda - o que é bem curioso - um “café-teatro”.

A surpreendente decoração


Edifício que, embora tenha sido – ao longo dos anos – um especial destaque na paisagem do local, vinha guardando preciosidades com um pormenor artístico impressionante. Assim, lá se encontram, por todo este tempo, desenhos e pinturas das paredes, enquanto o seu teto, tanto como a sua escada, se encontravam protegidos por inúmeras camadas de tinta, espaços que estão sendo objeto de recuperação cuidadosa.

O mais interessante para o momento vem sendo a iniciativa que os responsáveis por essa espetacular promoção estão propiciando aos soteropolitanos e visitantes: a exposição que denominaram de “Rua Chile e o Palacete Tira Chapéu – 120 anos de história”. O objetivo é de que seja narrado todo o envolvimento dessa importante iniciativa.

Nessa mostra, os visitantes irão ser contemplado com a exibição de painéis que retratam os episódios mais importantes que contam a história da excitante rua e, nesse contexto, a importância da inserção do palacete. Da mesma sorte poderá ser conhecido o perfil do arquiteto responsável pelo projeto: Rossi Baptista. Tudo isto devidamente mergulhado no propósito maior que é a revitalização completa do Centro Histórico de Salvador.

Essa exposição estará ao acesso de todos os visitantes durante a semana, de segunda-feira a sexta-feira, no horário das 09hs às 12hs, bem assim das 14hs às 17hs. Nos sábados, o horário disponível será das 09hs às 12hs.



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