Um sonho extremamente inusitado
Até com um casamento
inédito
(Carlos Casaes e Carla
Maria)
Por toda a
minha vida, e até hoje, eu sempre fui perseguido pelos sonhos, Alguns sem
maiores consequências, muitos destituídos de qualquer vínculo com a realidade,
enquanto outros palpavelmente identificados com situações inseridas na rotina da
minha experiência cotidiana. Nestes últimos anos, então, os sonhos me
“perseguem” nas minhas deambulações noturnas. Nunca raro, conquanto absolutamente
inconsequentes, sugerem-me situação possível da influência das articulações
televisivas. Porquanto é meu hábito cotidiano dormir, invariavelmente, com a TV
ligada.
Ocorre que
em duas oportunidades, aqueles sonhos se identificaram absolutamente com
momentos reais da minha caminhada. E a tamanha aproximação com a vida real, que
me impressionaram extensamente, produziram em mim a necessidade de pesquisar
sobre a possibilidade fatal de decorrência da vida real, fui buscar, então, nas
artimanhas científicas dos mais consagrados estudiosos, para tentar entender a
profundidade daquelas situações oníricas. Será o que tentarei perseguir
adiante.
Sonhos como resultantes
dos sentimentos
Ao buscar o
pensamento científico, resulta a certeza de que os sonhos, em verdade, são
experiências sensoriais, bem assim emocionais, ocorrentes durante o sono. Ainda
informam os que os têm examinado cientificamente de que constituem, em verdade,
um estado psicológico e fisiologicamente consciente. Até porque, como entende a
psicanálise, expressam realmente manifestações dos desejos reprimidos,
contrapostos aos medos mais profundos.
A realidade
é que se imagina ser fundamental para a existência o fato do sonho existir, em
razão de que podem inspirar, impulsionar e permanecer conectados à essência mais
profunda. Além de que pode ser um modo de regular as atividades do cérebro. Da
mesma sorte como pode se constituir num modo de esquecimento ou de reforço a
certas memórias.
O sonho e a ciência
Já lá se vão
tantos séculos durante os quais a ciência busca entender os sonhos, conquanto
até hoje não se saiba realmente qual seja o “gatilho neurológico” para o início
de um sonho. Na conformidade do que esclarece a ciência, o sonho ocorre
preferencialmente durante o sono Rem (Rapid Eye Moviment), que significa o
estágio profundo do sono. Por outro lado, a Logosofia
por exemplo, esclarece de que as imagens que vêm à mente durante o sono devem
ter uma relação intrínseca com o que tenha sido vivido durante o dia, ou no dia
anterior, ou ainda em momentos não identificáveis.
Por sinal,
tais imagens não devem ser ignoradas, em virtude de que as coisas existentes na
criação ocorrem por alguma razão. Isto, em virtude do fato de que se entende
ser necessário de que cada órgão cumpra a sua finalidade, condição que permite
que o corpo viva o seu pleno funcionamento, da mesma sorte – resulta o
raciocínio – de que se deve pensar que a situação não seria diversa com o
sonho.
FREUD, psicólogo e neurologista austríaco, afirma que os sonhos da noite têm a sua origem na procura pela realização de um desejo que tenha sido reprimido. O que nos leva a verificar ter sido, há algum tempo entendido de que até os bebês, quando ainda no útero das mães, teriam sonho. Apenas que não se identifica o que eles sonham.
Por sua vez,
as tradições religiosas e culturais têm entendimento de que o sonho sempre
surge com revestimento de poderes premonitórios, ou que seja mesmo uma certa
expansão da própria consciência. De sua parte, JOHN ALLAN HOBSON revela
ter entendido o sonho como “um mero
subproduto da atividade cerebral noturna”. Inclusive, percebendo existirem
duas fases do sono. Na primeira identifica-se o sono de ondas lentas, durante o
que o cérebro desenvolve atividade baixa, razão da não produção de filmes na
mente. No entanto, na segunda fase o sono é de alta atividade que se conhece
como REM,
em que ocorrem os sonhos, quando nada entre os adultos.
A interpretação dos
sonhos
Na
publicação dos estudos “A interpretação
dos sonhos”, que ocorreu em 1900, SIGMUND FREUD (que viveu entre
1856 e 1939) proporcionou estudos inteiramente especiais, oportunidade em que
se manifestou nos estudos psicanalíticos sobre
a questão. Interpretando o que havia sido publicado, FREUD inovou com a definição de que o sonho seria a realização de um desejo. Para ele, no enredo onírico existiriam
um sentido manifesto e um sentido latente. O que significaria de que a fachada e o significado, em que entendia que o último é que seria importante.
Da mesma
sorte como percebia, ele, de que a fachada seria um “despieste” do superego,
pelo que, de outro modo, o sentido latente, por conta da interpretação,
revelaria o desejo do sonhador que estaria por trás dos aparentes absurdos na
narrativa.
É de se
observar, também, de que o psiquiatra CARL GUSTAV JUNG, que era suíço, valendo-se
do entendimento de que, na observação dos seus pacientes e nas próprias
experiências empreendidas, tornou mais abrangente o papel dos sonhos, porquanto
entendia de que eles não seriam apenasmente reveladores dos desejos ocultos,
mas uma própria ferramenta da psique que estaria buscando o equilíbrio através
da compensação.
Melhor
esclarecendo, por exemplo: alguém, masculinizado, pode sonhar com figuras
femininas que tentariam demonstrar ao sonhador a necessidade de mudança de
atitude. Perseguindo no equilíbrio os personagens arquetípicos que interagiriam
no sonho num verdadeiro conflito, que leve à busca do consciente os conteúdos
do inconsciente. Entre os quais se perceberiam a anima (força feminina na psique dos homens), o animus (força masculina na psique das mulheres) e a sombra, força que se alimenta dos
aspectos não aceitos de nossa personalidade.
Ao contrário
de FREUD,
para JUNG, as situações absurdas dos sonhos não seriam uma fachada,
mas ocorreriam como uma forma própria do inconsciente se expressar. Para ele, a
interpretação dos sonhos é uma ferramenta crucial para a psicologia analítica.
Sonhos que contaminaram
a minha vida
Fatos que,
em verdade, vão manifestar, a partir daqui, situações tantos surpreendentes
quanto absurdas, tentarei relatar, como tendo sido eivadas de incríveis sonhos
que me marcaram a própria vida. Num deles, o meu relacionamento com TEREZA,
por nada menos do que 60 anos, acabou revelando um episódio da mesma sorte que
incrível, também até empolgante. Em tal conformidade, teve como origem e causa,
seguramente, a forma como nos conhecemos e como nos relacionamos ao longo de
todos aqueles 60 anos.
É
indispensável que rememore situações reais para que o fato seja bem entendido.
A verdade é que, por volta do começo de 2014, eu percebi que, precisamente no
dia 23 de junho daquele ano, nós, eu e ela, estaríamos comemorando precisamente
60 anos de relacionamento. Aquela situação me empolgou, a ponto de pretender
promover uma comemoração especial. Que, logicamente, deveria ocorrer naquela mesma
data – véspera de São João.
Simultaneamente
à ideia, ocorreu-me, inteiramente por acaso das minhas deambulações, de que a
nossa história estaria contida, de forma incrível, em três canções que foram
sucesso nacional e internacional até então. Para que se tenha um entendimento
perfeito, vou transcrever as três canções.
FASCINAÇÃO – criação de Maurice Féraud e Dante
Pilade “Fermo Marchetti”, escrita em 1905, Versão de Armando Louzada, gravada
também por Carlos Galhardo em 1943, sucesso fenomenal por Elis Regina, em 1976.
Mas também gravada por Nana Caymmi.
Gravada
originalmente por DINA SHORE, NAT KIMG COLE e PAUL MAURIAT.
“Um sonho mais lindo eu sonhei, de quimeras
mil castelos ergui,
“e no teu olhar, tonto de emoção e
sofreguidão mil venturas previ.
“O teu corpo é luz, sedução, poemas
divinos cheios de esplendor,
“O teu sorriso prende, inebria,
entontece, és FASCINAÇÃO, amor.
EU SONHEI QUE TU
ESTAVAS TÃO LINDA – autores Lamartine Babo e Francisco Mattoso – interpretada por Carlos
Galhardo, com gravação também de Toquinho e de Francisco Alves.
“Eu sonhei que tu estavas tão linda,
numa festa de raro esplendor,
teu vestido de baile, lembro ainda,
era branco, todo branco, meu amor.
A orquestra tocou uma valsa, dolente,
tomei-te aos braços, fomos dançando,
ambos cilentes.
E os pares que rodeavam entre nós:
diziam coisas, trocavam juras a meia voz.
Violinos enchiam o ar de emoção e de
desejos numa centena de corações.
Pra despertar teus ciúmes, tentei
flertar alguém, e tu não flertastes ninguém.
Olhavas só para mim, vitórias de amor
cantei,
Mas foi tudo um sonho, acordei.
BODAS DE PRATA – autores Roberto Martins e Mário
Rossi, criação de Carlos Galhardo, que gravou em 1945.
Beijando os teus lindos cabelos, que
a imagem do tempo marcou,
Eu tenho nos olhos molhados a imagem
que nada mudou.
Estavas vestida de branco, sorrindo e
querendo chorar,
Feliz, assim, olhando para mim, que
nunca deixei de te amar.
(“Vinte e cinco anos” - na versão original)
São sessenta anos a comemorar de união (na minha versão)
E a felicidade continua em meu
coração,
Já faz tanto tempo o meu amor por ti,
E eu também fiquei mais velho e quase
nem senti.
São sessenta anos de veneração e
prazer, pois até nos momentos de dor,
O meu coração me faz compreender,
que a vida é tão pequena para tanto
amor.
Estas três
canções parecem relatar verdadeiramente as fases do nosso relacionamento. A
primeira, realçando o fato de que foram os belíssimos olhos azuis dela que me
seduziram. A segunda, de que o nosso relacionamento teve início mesmo numa
festa dançante. E a terceira falando do ato do nosso casamento, quando ela não
sabia se ria ou se chorava.
A homenagem que não se
realizou
O que eu
pretendi, então, foi homenageá-la, inclusive cantando as três canções na
oportunidade em que, no dia 23 de junho, toda a família estivesse reunida para
comemorar os nossos 60 anos de convivência. Ocorreu, no entanto, que eu decidi
promover uma reforma na nossa casa, aqui na “Pedra do Sal” em Itapuã, fato
que inviabilizou o encontro da véspera do São João. Decidi, então, transferi-lo
para a data do aniversário dela: 12 de setembro.
Quando
setembro chegou, as obras ainda se encontravam em meio de caminho, não
permitindo a ocupação, naquela data, do espaço em que nos reuniríamos.
Finalmente, então, preferi adiar para a véspera do Natal o nosso encontro e a
nossa comemoração.
Desgraçadamente,
no entanto, ela não pôde esperar mais e nos
deixou no dia 01 de novembro. Para o meu quase desespero.
Viria o 24
de janeiro, meu aniversário. Tão desgastado como me encontrava, decidi não
comemorar. No entanto, os familiares foram unânimes em exigir que eu reunisse a
todos pois seria, inclusive, a grande oportunidade para homenageá-la. Foi então
que pedi que, ao invés de me trazerem presentes, trouxessem flores pois seria o
modo de promover, realmente, uma homenagem póstuma.
O acaso que gerou uma
incrível história
Assim
ocorreu. E, objetivando demonstrar qual seria a homenagem que eu havia
projetado para ela, cantei, mesmo para aquele público com a sua lamentável
ausência, as três canções, revelando como elas, espontaneamente e por acaso, e
coincidentemente, contavam a nossa história.
Ali teve início um episódio que resultou num “verdadeiro e incrível filme”. O fato foi
que, no encontro que seria da família, participaram também algumas amigas e
colegas das nossas filhas, CARLA e HELGA. E, dessa consequência, nasceu esta
incrível história.
A questão foi que (num sonho) uma das amigas das filhas,
impressionada com o meu relato quanto à coincidência das três canções com a
nossa vida, entendeu de que poderia resultar num belo programa de televisão, no
qual, em entrevista, eu relatasse toda aquela história. E levou a questão a uma
outra sua amiga que, por acaso, era produtora de programa televisivo. Da mesma
sorte que a colega de CARLA e HELGA, a amiga da tv pegou o peão na unha e me convidou para gravar uma entrevista na qual eu deveria relatar, com
minúcias, aquela impressionante história de amor.
(E segue o curiosíssimo sonho) Por acaso, o fato da maior
importância foi que, como o encerramento da entrevista seria comigo a cantar as
três canções, ao chegar aquele momento, a minha entrevistadora sugeriu que
suspendêssemos a gravação, porque ela achava que seria mais expressiva a minha
interpretação das três canções se eu fosse acompanhado por algum instrumento. E
ficou, então, de convidar alguém para aquela função.
Um maestro que gerou um espetáculo
O grande epílogo dessa história foi que, totalmente por acaso, encontrava-se no estúdio, naquele momento, um maestro de uma das orquestras sinfônicas de Salvador, pois, a seguir, iria, também, conceder uma entrevista. Ocorreu que, ouvindo aquela sugestiva história, o maestro, encantado com o seu conteúdo, sugeriu que eu fosse acompanhado na gravação pela própria orquestra sinfônica, pois ele mesmo faria um belo arranjo para as três canções
(Não esquecer de que eu me encontrava, então, dormindo e
sonhando)
Lógico que, extremamente surpresos pela coincidência, todos
concordamos. Ali foi, precisamente a origem de alguma coisa indiscutivelmente
fenomenal. Porque, o maestro elaborou um “arranjo” musical simplesmente
perfeito. Então, conseguimos gravar com o acompanhamento mesmo da orquestra.
E o resultante é que se constituiu numa repercussão jamais
imaginada. Logo a seguir, todos os meios de comunicação passaram a comentar
aquele momento como um fato muito especial no contexto das artes musicais
baianas. A entrevista passou a ser reproduzida seguidas vezes, enquanto as
emissoras de rádio levavam ao ar as três canções. O sucesso foi de tal sorte
que a repercussão ultrapassou os limites do Estado da Bahia, ganhando o
território nacional.
Mas não ficou ali, no sonho, a repercussão também não se
limitou ao Brasil, conquistando, por fim, todo o território sul-americano. E a
repercussão prosseguiu na sua surpreendente explosão, transferindo-se a outros
continentes, como Europa, onde a excelência do acompanhamento da orquestra fez
avultar uma interpretação absolutamente despretensiosa.
Uma expansão incrível e o sonho continua
Ali, o mais espetacular estaria por acontecer. Por conta de
um episódio inacreditável. No mesmo
sonho, encontrava-me no meu gabinete, no escritório aqui de casa, quando o
telefone tocou. A minha filha CARLA atendeu. De repente veio a mim e me
informou que a ligação se destinava a mim mesmo. Perguntei de quem se tratava.
Ela, extremamente surpresa, disse-me que a pessoa se apresentava como Adido Cultural de uma Embaixada de um certo
país, e cujo nome do interlocutor era muito complicado na sua pronuncia.
Então, atendi:
- Alo!
- Doutor CARLOS CASAES,
eu sou Adido Cultural do país tal.
(O país ao qual ele se referia era uma pequena nação do
Oriente Médio, situado na Península Arábica)
- A que devo o prazer
do seu contato?
- É o seguinte, doutor
CASAES: estou falando em nome do nosso Embaixador que tem um convite do nosso
Emir a lhe transmitir. Por conta do que já se encontra aí em Salvador, na
companhia aérea Azul, um bilhete em seus nome para que o senhor, por gentileza,
venha aqui amanhã pela manhã.
- Meu querido amigo,
muito sensibilizado com esse convite, mas lhe devo esclarecer de que eu já
estou nos meus 89 anos e as minhas filhas – são duas – não querem que eu viaje
só. Eu teria que ir, então, com uma delas.
- E qual seria nome de
sua filha que lhe deve acompanhar?
- Carla Maria
Pellegrino de Souza Espinheira.
- Obrigado, Doutor.
Daqui a meia hora o Senhor já terá também aí na Azul, junto com o seu, o
bilhete de D. Carla. Por favor, eis o número do meu celular e o meu e-mail para
que o senhor, assim que marcar o voo, me informe número, horário de saída de
Salvador e chegada em Brasília. Pois haverá alguém os esperando.
Ainda no sonho, no dia seguinte eu teria ido com a
CARLA (para Carla viajar de avião, so
poderia ser em sonho) a Brasília e lá, ao desembarcar, fomos recebidos pelo
próprio Adido Cultural. Ao nos
receber, informou-nos de que nos iria levar ao Hotel por conta de que, o
Embaixador, que pretendia almoçar conosco, havia esquecido de que, naquele
mesmo dia, estava programado um almoço com os demais Embaixadores dos diversos
países, programa aquele que era periódico. E que, após o almoço, iria nos
buscar onde nos encontrássemos pois, poderíamos almoçar no hotel ou em qualquer
outro restaurante. Contanto que pedíssemos a “nota” para que fôssemos
ressarcidos posteriormente. Pois todas as nossas despesas em Brasília correriam
à conta da Embaixada. E nos deixou no hotel que haviam reservado.
Um convite jamais imaginável
Cerca das duas e meia da tarde o nosso amigo Adido foi nos encontrar no restaurante em que almoçáramos e nos levou à Embaixada. Onde fomos recebidos com toda a cordialidade Pelo Embaixador. Que foi nos adiantando:
- Doutor Casaes, uma
honra estarmos recebendo o senhor em nossa Embaixada. Uma personalidade do
maior destaque internacional.
- Também não vamos
exagerar, Embaixador. Nós é que estamos felizes em atender ao seu convite. Por
sinal, muito curiosos para conhecer a razão.
- Seguinte, Doutor Casaes.
Primeiro: o senhor é realmente uma personalidade internacional do maior
destaque. Hoje, o senhor é notícia no mundo inteiro.
- Não vamos exagerar,
Embaixador.
- Não, até na nossa
pequena nação o Senhor, hoje, é o maior destaque.
- Não creio,
Embaixador!
- Não estou lhe
dizendo, doutor?! Aquela sua entrevista está “bombando” em toda a parte. Todas
as emissoras de rádio e de televisão diariamente transmitem a gravação do
senhor cantando as três badaladas canções. E os jornais não param de publicar
notícias sobre o senhor.
- Brincadeira,
Embaixador!?
- Verdade, doutor. E,
veja bem, o que nos levou a lhe convidar para vir aqui é para que eu lhe
transmita um convite que vem diretamente do nosso Emir. Explico: ele, como o
Senhor deve saber, é um homem muito rico, dos mais ricos do mundo.
- Tenho conhecimento,
sim,
- Apesar de toda a fortuna dele, ele tem
apenas uma filha, filha única. Portanto, sua herdeira universal. O Senhor não
imagina o que ele é capaz de fazer para satisfazer aos desejos da filha. Ocorre
que ela está com 22 anos e com casamento marcado para daqui a noventa dias. O
fato foi que ela, há três dias, assistiu na televisão a transmissão da gravação
da sua entrevista em que o senhor conta a história que resultou em cantar as
três canções. Ela ficou deveras impressionada. Na manhã seguinte, quando toda a
família estava reunida no “café-da-manhã” – uma pausa para explicar de que o
nosso emir, por conta dos seus compromissos oficiais, políticos, empresariais,
nem sempre pode participar com toda a família das três refeições diárias, razão
pela qual faz absoluta questão de estar no “café da manhã” junto a todos.
E prosseguiu.
- A certa altura, a
nossa “princesinha” relatou que, na noite anterior, havia assistido na TV a
transmissão de sua gravação. E que ficou consideravelmente impressionada com a
história. E que, ao adormecer, sonhou com uma voz – que não conseguia identificar
se masculina ou feminina – simplesmente a voz lhe dizia que:
- Se quisesse assegurar
a felicidade no casamento dela que conseguisse que o senhor participasse do
mesmo.
Inquestionavelmente até emocionado, o Embaixador prosseguiu:
- O Senhor deve
imaginar a reação do pai. Naquele mesmo instante, ainda na mesa e na presença
da esposa e da filha, ligou para mim. Aqui, evidente, ainda era tarde da noite
e eu estava dormindo, quando o meu celular tocou. Assustado com uma ligação
àquela hora e para o meu aparelho particular, dei um pulo da cama e, ao
constatar que a ligação vinha do celular do próprio Emir foi que apavorei,
imaginando de que alguma coisa de extremamente grave estaria ocorrendo, para
que ele, àquela hora, me ligasse do celular dele próprio – fato que jamais
ocorrera!
Sem conseguir esconder a emoção, o Embaixador prosseguiu:
- Foi quando ele me
historiou o episódio e me pediu que contatasse com o senhor imediatamente e o
convidasse para vir a Brasília a fim de lhe transmitir o convite dele para que
o Senhor se programe a daqui a três meses ir à nossa terra participar do
casamento da “Princesinha”.
E fez questão de esclarecer:
- Com a observação, Doutor Casaes, de que as condições que o senhor apresentar serão aceitas de plano, não serão sequer discutidas. Inclusive lhe devo adiantar de que, como tenho conhecimento de que o senhor só se apresenta acompanhado de orquestra, posso lhe assegurar de que, em nossa terra, existem orquestras do melhor nível internacional. No entanto, o senhor pode escolher qualquer orquestra em qualquer parte do mundo que nós vamos lá e a contratamos.
Visivelmente extasiado, consegui me controlar e me manifestar
(Vale lembrar de que a fisionomia da Carla era de absoluta pasmaceira).
- Meu caro Embaixador,
o Senhor deve admitir que eu me encontro extremamente espantado com esse
convite que nunca pude imaginar. Mas lhe devo assegurar de que – diante do que
o senhor esclareceu – eu só me apresento, em qualquer parte, se for acompanhado
da Orquestra Sinfônica baiana. Aliás, o Senhor deve entender as razões: é a
única forma como eu posso demonstrar o meu reconhecimento ao Maestro e à
orquestra baiana por serem responsáveis por tudo o que está ocorrendo comigo,
desde aquela tão badalada gravação.
Tentando me equilibrar, prossegui.
- Eu não sei se vamos
poder atender a esse tão especial convite. No entanto, vamos envidar todos os
esforços para que possamos. Contudo, somente o convite será aceito se pudermos
nos fazer acompanhar da orquestra sinfônica baiana. Vou retornar a Salvador, sentar
com as minhas filhas – que são as minhas produtoras – e com o maestro da
orquestra para verificarmos a possibilidade do aceite do convite. Diante de
toda a programação que já temos assegurado para esse período.
O Embaixador me atalhou.
- Doutor Casaes, vamos
aguardá-lo novamente aqui amanhã. Lembrando que já foram reservados na Azul de
Salvador os dois bilhetes para que os senhores possam retornar amanhã.
Voltamos imediatamente, eu e Carla, a Salvador. Do aeroporto,
onde Helga nos esperava, rumamos direto para o local onde a orquestra ensaiava.
E levamos o convite ao maestro. Que, surpreso, transmitiu-o aos demais
integrantes do grupo. Foi uma festa a possibilidade de irmos ao exterior e a um
país tão especial.
Então, combinei com o maestro que, depois, iríamos resolver
sobre os convites que nos estavam sendo encaminhados, e até contratos já
assumidos, para o período. Indaguei do mesmo qual o “cachê” que eu solicitaria
para a própria orquestra. No que ele me esclareceu de que fosse o mesmo que eu solicitasse
para mim.
No dia seguinte, junto à Carla, retornamos a Brasília. Da
mesma sorte fomos recebidos no aeroporto pelo mesmo Adido Cultural que, naquela
oportunidade, levou-nos diretos à Embaixada. Mais uma vez, fomos tratados com
toda a cordialidade pelo Embaixador. Ao nos acomodar, questionou:
- E então?
- É, meu querido
embaixador, decidimos aceitar o muito especial e gentil convite. E assim estou
decidindo em razão de ter passado pela minha cabeça uma questão muito
complicada. Porque, ao sair daqui ontem, vi-me extremamente preocupado pelo
fato de concluir que aquela questão estaria se materializando em um problema
psicológico da mais alta importância. Isto em virtude de que não imaginávamos o
que poderia ocorrer na mente daquela jovem se não pudéssemos atender ao
convite.
E prossegui:
- Então, tanto nós como
o maestro e a orquestra resolvemos aceitar o convite para evitarmos a
decorrência de um problema dessa natureza. Contudo, meu caro Embaixador, as
nossas condições serão logicamente muito especiais. Até pelo fato de que vamos
ter que cancelar uma série de compromissos previstos, muitos deles já
assumidos. O que me leva a temer que possamos vir a ser objeto até de questões
judiciais, em razão de estarmos cancelando, individualmente, compromissos já
assumidos para os cerca de 30 dias que envolverão toda a nossa ida ao seu belo
país.
E especifiquei, então, qual seriam as condições.
- Inicialmente, uma
observação: eu não vou – e nós não vamos – viajar a um país tão distante, tendo
que realizar transbordo – conexão - em algum local. Nem mesmo no Rio de
Janeiro, em São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife ou outro
qualquer aeroporto. Nem sequer no exterior. Até porque não sei se o seu país
tem voo a partir do Brasil. Só iremos se for num voo que saia de Salvador
direto para a sua capital. Ainda que tenhamos que realizar uma parada técnica,
para reabastecimento, etc.
Adiantamos mais:
- Então, os senhores
terão que conseguir das autoridades aeroviárias do seu país a autorização para
que saia de lá um avião direto a Salvador, tanto para nos levar, quanto para
nos fazer retornar, depois. Da mesma sorte como terão que conseguir das
autoridades aeroviárias do Brasil a autorização para que um avião venha
diretamente do seu país a Salvador, em duas oportunidades.
Completei, então, a nossa proposta:
- Inclusive, nesse voo,
tanto na ida quanto na volta, deve acompanhar um “intérprete” em português do
Brasil. Veja bem, um “intérprete”, não confundir com um “guia”. Pois seremos
mais de 60 pessoas que terão, num voo tão longo, que contatar permanentemente
com a tripulação que, evidente, será integrada por pessoas que falam língua
estrangeira. Bem assim que esse intérprete deverá nos acompanhar por toda a
nossa estada lá. Pois vamos nos deslocar para vários pontos, sobretudo ao
espaço da solenidade, e, evidentemente, contatar com diversas pessoas. A partir
mesmo do hotel. E
sequenciei a colocação:
- Ao lado, claro, de
toda a nossa estada lá, com hospedagem, por exemplo, que deve ocorrer em hotel
similar aos nossos 5 estrelas, pois não sei como é a classificação por lá.
No que o Embaixador, imediatamente, retrucou:
- O senhor, Doutor,
pode ficar tranquilo, pois será hotel de luxo – que corresponde aos 5 estrelas
daqui. Tenho a certeza de que ficarão no melhor e mais belo hotel de lá,
E concluí:
- Quanto à remuneração, será a seguinte: deverá ser em “euros” pois, no exterior, não aceitamos outra qualquer moeda, nem mesmo o dólar. Nas seguintes quantias, então: para mim, 30 milhões de euros; para a orquestra, 30 milhões de euros; e para as minhas filhas, 5 milhões de euros para Carla e 5 milhões de euros para Helga. Todos esses valores depositados em nossas contas do Banco do Brasil – cujos números estamos fornecendo agora – até 72 horas antes do nosso embarque. Com uma outra observação: de que estejam absolutamente livres de qualquer tributação, seja lá no seu país, quanto aqui no Brasil. La eu não sei se existe algum tributo a ser aplicado para a saída de moedas estrangeiras. Aqui no Brasil eu sei que, depois de depositados, os valores sofrerão incidência do Imposto de Rendas. Portanto, os Senhores terão que recolher, antecipadamente, o valor correspondente a essa aplicação do imposto.
- Entendeu a proposta?
- Claro, Doutor Casaes.
Agora, vamos fazer o seguinte: deixar para amanhã pela manhã a assinatura do
contrato. Porquanto eu vou enviar ao nosso Emir as condições que o senhor acaba
de nos informar, embora ele, antecipadamente, tenha autorizado a aceitarmos
quais fossem as condições solicitadas. Mas, evidente, eu faço questão de lhe
dar conhecimento. Então, amanhã, pela manhã, assinamos o contrato. OK!
- Certo, Embaixador.
Evidentemente, deixamos a Embaixada, fomos ao hotel e, a
seguir, rumamos para um dos bons restaurantes de Brasília. Onde almoçamos.
Depois do almoço, para “fazermos a digestão”, pois não teríamos compromisso à
tarde, saímos deambulando pela explanada dos ministérios. Quando nos
encontrávamos em frente ao Congresso Nacional, o meu celular alarmou. Ao
verificarmos a procedência, reconheci a chamada vindo do mesmo Adido Cultural
que nos estava sempre conduzindo.
Surpreendido com aquela contato que não estava previsto,
atendi. E ele questionou.
- Onde vocês se
encontram.
- Na Esplanada dos
Ministérios, em frente ao Congresso Nacional, porque?
-Porque o nosso
Embaixador pediu-me para ir busca-los.
- Para que? Nós não
deveríamos ir à Embaixada somente amanhã pela manhã? Como combinado?
- Na verdade, eu não
sei qual a razão. O fato foi que o Senhor Embaixador pediu-me para
localiza-los, ir busca-los e conduzi-los novamente à Embaixada. Razão por que estou
indo busca-los.
- OK!
Extremamente surpresos pela inusitada da questão, tergiversei
com a Carla sobre o que poderia estar ocorrendo. Em que ela comentou.
- Seguramente, meu pai,
ao dar conhecimento ao Emir, acho que ele deve ter recusado a proposta e
solicitado para que ele nos informe.
E, incontinente, Carla ligou para Helga, em Salvador, quando
comentou que estava apavorada, porquanto entendia que a possibilidade de
receberem elas alguns milhões deveria ter sido recusada pelo Presidente.
Logo apareceu o Adido que nos conduziu até a Embaixada. Em lá
chegando, fomos recepcionados com a mesma pressurosidade do Embaixador. Que foi
adiantando:
- Perdoem-me Dr. Casaes
e D. Carla. Havíamos combinado de que somente deveríamos nos encontrar amanhã
pela manhã.
- Perfeito. O que
ocorreu? – questionei
- Algum problema?
- Não. Sabe qual foi a
questão? Como eu havia informado a vocês, logo que saíram preparei a sua
proposta e enviei imediatamente ao Emir. Acho que não duraram cinco minutos. O
meu celular, mais uma vez, despertou. Ao verificar a procedência, surpreendido,
vi que era do nosso Emir. Pela segunda vez, espantei-me. Quando ele me foi
questionando.
- Já assinaram o
contrato?
Respondi incontinente – Não.
- E porque não?
- A questão, Senhor
Emir, foi que eu combinei com o Dr. Casaes de que iria enviar ao Senhor a
proposta dele. E programei, então, para amanhã pela manhã a assinatura do
contrato.
- Então, o Emir me
questionou:
- E eles ainda se
encontram aí em Brasília.
- Claro, estão ainda
aqui.
- Então, mande
localizá-los e busca-los para que, imediatamente, possam assinar, finalmente, o
contrato.
- Porque quero a cópia
desse contrato ainda hoje em minha mão. Entendido?
- Claro, meu caro Emir.
Vou providenciar, pois.
- Foi o que ocorreu,
Doutor Casaes. Portanto, aqui estão as diversas vias do contrato para
assinarmos.
O que diligenciamos, incontinente. E como ainda era
relativamente cedo, pedimos para que fosse feita uma reserva em voo imediato para retornarmos a
Salvador. Fato que, na realidade, ocorreu. Carla que se encontrava
verdadeiramente “estupefata” pelos últimos acontecimentos, ligou para Helga
ainda no aeroporto, enquanto esperávamos o voo.
- Helga, minha filha, não foi nada do que imaginamos. O fato ocorreu que o Emir, quando recebeu as informações sobre a proposta do meu pai, imediatamente ligou para o Embaixador para pedir que o contrato fosse assinado de imediato. O que se passou, então. Estão aqui em minhas mãos as 4 vias do contrato: a do meu pai, a da orquestra, a minha e a sua. Meu pai está solicitando para que você ligue imediatamente para o maestro, dizendo-lhe que, do aeroporto mesmo, estaremos indo ao encontro dele para lhe entregar a cópia do contrato. Aliás, quando ele tomará conhecimento das condições pactuadas. Vamos ser mesmo “milionárias”, minha filha! Que venha logo esse casamento!
Do aeroporto mesmo seguimos para o Vale do Canela onde a
orquestra ensaiava. Já no começo da noite. E lá chegando, imediatamente
entregamos a cópia do contrato ao maestro. Quando ele leu as condições que
foram pactuadas, demonstrando encontrar-se extasiado, falou para os músicos,
incontinente:
- Pessoal, imaginem
quanto o Casaes solicitou para nós irmos ao tal casamento:
- Nada menos do que 30
milhões de e u r o s. Sabem quanto resultará esse valor em reais? Cerca de 180
milhões de reais. Vamos todos ficar milionários, pois!!!
Foi simplesmente uma “farra” a reação dos músicos, que
passaram a executar os seus instrumentos aleatoriamente, na maior balbúrdia
sonora.
A partir de então iniciaram-se as providências para a
transferência de datas dos compromissos já assumidos, cancelamento de alguns e
suspensão de outros para futuras negociações. E o início, também, dos ensaios. Ocorreu
que, em certo momento, eu imaginei de que a nossa participação em toda uma
solenidade formal, em apenas um determinado momento e por alguns poucos
minutos, poderia produzir uma intervenção sem qualquer identificação com toda a
solenidade.
Foi, então, que consultei o maestro se ele não poderia fazer
um arranjo especial para que a orquestra acompanhasse todo o transcorrer do
complexo ato. Com justa razões, ele, então, me contestou alegando não conhecer
o ritual, com os seus momentos especiais, sobretudo a própria duração da
solenidade. Com o que eu, em contra partida, respondi-lhe de que, evidente, se
ele concordasse, eu iria, primeiro, consultar os responsáveis pela solenidade
se aceitariam aquela sugestão. E, em caso positivo, que nos fornecessem uma
demonstração de todo o desenrolar dos diversos atos constituidores da
solenidade como um todo. E, sobretudo, o tempo de duração de cada momento e de
toda a solenidade completa.
O que foi feito. E, para surpresa nossa, imediatamente veio a
confirmação de que eles haviam adorado a ideia, autorizando, então, que fosse
produzido o esquema musical para a solenidade. Mas, o mais importante foi que
enviaram, concomitantemente, um vídeo com a demonstração dos diversos momentos
daquela solenidade, com os respectivos tempos de duração de cada ato.
Em cima do que o maestro passou a elaborar o arranjo musical
definitivo, seguido de intermitentes ensaios com o objetivo de que a
solenidade, então, transcorresse num resultado que pudesse impressionar aos que
dela participassem. Durante todo o percurso da montagem do arranjo musical, eu,
inclusive, que passei a acompanhar toda a sua elaboração, vez por outra emitindo
uma sugestão, mais do ponto de vista formal do que musical, evidente. Que, por
acaso, era agradavelmente acolhida pelo maestro.
Enfim, os dias se passaram e chegou o momento para o nosso
embarque. Sem maiores consequências, seguimos num voo que teve a duração de
cerca de 20 horas, evidentemente com escala técnica para reabastecimento.
Conforme solicitado, no voo veio um intérprete em português do Brasil. A
viagem, embora longa, transcorreu normalmente e chegamos ao nosso destino em
torno das 13:00 para as 14:00 horas.
O avião estacionou na pista do aeroporto, que ainda não tinha “fingers”. Ao saltar, pretendendo seguir em direção ao aeroporto, fui interceptado porque havia um ônibus parado ao lado da escada de desembarque. Foi quando me informaram de que teríamos que sair naquele ônibus, sem passar pelo aeroporto. Lamentei porquanto estava curioso por conhecer mais um aeroporto internacional, sobretudo de um país tão especial.
Incontinente, o guia que nos esperava, esclareceu-me de que
não poderíamos passar pelo aeroporto. Teríamos que sair no ônibus pela lateral.
Questionei o porquê. Foi quando fui informado de que o aeroporto estava
superlotado. Questionei o que estaria ocorrendo de especial. Foi quando,
surpreendentemente, esclareceram-me de que o aeroporto estava cheio com a
população da cidade que teria ido para ali para nos ver.
Extremamente surpreendido, então retruquei:
- Então o povo veio até
o aeroporto para nos ver e nós vamos sair pelos fundos, escondidos? Nem pensar.
Foi quando me esclareceram de que havia sido uma determinação
do Emir, por uma questão de segurança. Aí eu retruquei:
- Nem pensar. Se o povo
veio aqui para me ver, não vou sair
escondido. Ou vou ao encontro do povo no aeroporto ou daqui mesmo vou retornar
a Salvador! A verdade é que não vou cometer essa “sacanagem” com o povo daqui.
Ali começou um “corre-corre”, inclusive com contatos com o
Emir, quando me informaram de que aquela autoridade mesmo havia concordado em
que nos passássemos pelo aeroporto, mas que fosse assegurado um sistema
rigoroso de segurança. Pedi, então, que informassem pelo serviço de alto-falantes
do aeroporto de que nós teríamos exigido aquele encontro, em retribuição à
extrema cortesia do povo local.
E, na realidade, absolutamente espantados com aquela
multidão, fomos ao encontro do povo diante de uma ovação jamais imaginada. Dali
então, seguimos para o hotel, onde, da mesma sorte, uma multidão nos aguardava.
E, como ocorreu no aeroporto, exigi entrar no hotel passando pelo meio da
multidão entusiasmadíssima.
Inclusive, nos ensaios, fazíamos algumas simulações para que,
no exato momento da solenidade, tudo ocorresse “dentro dos conformes”. E, em
verdade, nos posicionamos com todo o equilíbrio para uma apresentação
absolutamente perfeita. Aliás, vale já antecipado de que a solenidade foi uma
das coisas mais belas que tivemos oportunidade de assistir, mais que isto, de
participar.
O espaço era um salão de dimensões consideráveis, para uma
solenidade cujo ritual foi inspirado, inclusive, na Roma antiga, todo ornado
ricamente com algumas milhões de flores de várias espécies e cores, enquanto
todo o ambiente era inteiramente cercado por visuais em 3D. Em que, colunas
romanas cercavam uma espécie de túnel por onde entraram os noivos e demais
integrantes do cortejo inicial.
A entrada da noiva foi um absoluto deslumbramento, ela que
era muito bela, inserida num belíssimo vestido justo, todo branco, adornado por
um arranjo que lhe descia nas costas, pelos lados dos seios e até o chão, tendo
a sugestão do busto adequadamente descoberto. Completado com o tradicional
curto véu. Enquanto, à sua frente o cortejo era constituído pelos padrinhos e
pelo noivo; ela conduzida pelo seu pai, o Emir, seguida de inúmeros outros
convidados.
Quando da entrada do cortejo, a orquestra manteve um nível
emocional surpreendente, sobretudo quando da chegada da noiva que foi saudada
com um acorde vibrante que agitou todo o público de convidados presente. Todo o
ato em si decorreu mais ou menos como as solenidades já conhecidas aqui no Brasil.
Os noivos expressando os seus votos, com a demonstração do sentimento e as
juras habituais. Todo aquele ritual logicamente conduzido pelo celebrante.
Até que ocorreu a troca das alianças e a consequente benção. Da mesma sorte, todos esses momentos exaltados pela orquestra. Com tamanha adequação emocional do instrumental que, ao entoar a três canções, com o que, todo o cerimonial foi concluído, o surpreendente foi que praticamente todos os presentes não conseguiam dissimular a emoção, sobretudo os pais e padrinhos dos noivos. Estes, então, abraçados, choravam intensamente quando, inclusive, ela veio ao meu encontro e me abraçou, agradecendo a minha presença. Lembrando, até, de que todos nos esperavam no palácio, onde ocorreria a recepção.
Após todos os cumprimentos, enfim, os noivos saíram. Depois
de uns 5 minutos, todos foram surpreendidos com a jovem noiva retornar quase
correndo, e vir ao meu encontro, solicitando-me que fosse até a frente do
prédio. Resisti de alguma sorte, mas a insistência não me deixou outra
alternativa. E fui até a porta do prédio.
S u r p r e s a! ! ! absoluta quando, ao chegar à frente da
entrada divisei uma imensa multidão, muitas daquelas pessoas que exultaram com
a minha chegada, ao portar cartazes com a minha foto e o meu nome, bem assim e
até camisetas da mesma sorte. Claro, não entendi aquela manifestação em um
evento do qual eu era, apenas, participante.
Foi quando ela me advertiu:
- Eles vieram aqui para
lhe ver, não foi para o meu casamento, não!
Confesso que fiquei simplesmente absorto com aquela
manifestação que jamais imaginei pudesse ocorrer. Depois que arrumamos todos os
instrumentos e material da orquestra, assumimos o ônibus e fomos até o palácio
onde ocorria a recepção. E onde, em frente, uma outra multidão, como o mesmo
objetivo nos estava aguardando. Indispensável afirmar de que, com a nossa
chegada, o entusiasmo simplesmente explodia. Na recepção que ocorria no
interior do palácio, foi o momento em que os convidados mais cumprimentaram os
noivos. Seguindo-se um excepcional coquetel, como de praxe.
O mais estranho foi que, a certa altura, o Emir me chamou e
travou comigo esse surpreendente diálogo:
- Casaes, por todos
este tempo eu venho refletindo sobre o comportamento completamente
extraordinário do povo aqui. Confesso de que jamais testemunhei ou tomei
conhecimento de alguma coisa similar. Estou indiscutivelmente extasiado com
isto. Por conta do que estou imaginando a possibilidade de adotarmos uma
retribuição a esse mesmo povo.
Prosseguindo:
– A verdade é que, pelo
fato de que não sou eleito por eleição direta, não tenho, histórica e
necessariamente, contato direto com o povo. Daí a minha natural estupefação.
Então, tenho imaginado uma forma de contemplar esse povo com um reconhecimento.
E o que imaginei não poderia ser de outra forma que não uma sua apresentação
especialmente para “ele”. Inicialmente, ocorreu-me a possibilidade de uma
apresentação em praça pública. Contudo, ao refletir, entendi de que seria muito
complicado, com consequências muito perigosas, numa praça.
Continuou:
- Foi aí que me veio a
ideia de uma apresentação no estádio esportivo. Claro, com portões abertos. Onde,
da mesma sorte, haveria bem mais segurança. O que você acha?
Respirei fundo, refleti durante a explanação dele, e, enfim, me
manifestei.
- Presidente, tal
preocupação também me ocorreu. Vinha pensando numa forma de poder retribuir a
esse povo maravilhoso tanta simpatia. Mas não chegava a qualquer conclusão, tal
era a forma tumultuada com que a questão se me apresentava. Mas, em princípio
acho sua ideia até louvável.
E ele me interrompeu:
- Indispensável
esclarecer de que essa apresentação será nas mesmas condições que trouxeram vocês
aqui. A estadia de vocês é só ser ampliada no prazo, adiada por mais, talvez,
uns 10 dias. O retorno já assegurado, seja para quando for, com o avião na
espera no aeroporto. Quanto à remuneração, que será a mesma, eu inclusive
determinarei que sejam imediatamente feitos os depósitos nas suas contas.
- É meu caro Emir. A
questão envolverá apenas as nossas possibilidades: minha e da orquestra. Terei
que examinar o caso junto às minhas filhas, bem assim ao maestro. Para que
aquilatemos as dificuldades e se as poderemos transpor. Porque, pelo fato de
virmos até aqui, já estamos com uma série de questões, com possibilidade,
inclusive de ações judiciais. Fato que, com mais esse adiamento, as dificuldades
ainda serão maiores.
- Então Casaes – interrompeu-me o Emir – consulte-os agora, pois eu necessito de uma
decisão imediata. Não temos tempo a perder. Reúna seu pessoal na sala de encontros
e, por favor, traga-me uma decisão.
Incontinente, chamou um funcionário e solicitou que abrisse a tal sala para que eu promovesse a reunião. E lá chegando, junto com a Carla, a Helga e a orquestra, passei-lhes o que estava ocorrendo. O maestro confessou de que já vinha com aquela mesma preocupação. Somente não percebia uma forma de viabilizar, pois, claro, não seria fácil uma sugestão nesse sentido. Com a minha informação de que o Emir nos assegurava as mesmas condições, toda a orquestra vibrou com a notícia de que receberíamos a mesma remuneração do casamento. E a decisão foi a mais positiva.
Escusado dizer que o Emir exultou com a nossa decisão. E,
imediatamente, determinou aos dirigentes do estádio e do setor de cultura a
adoção imediata, a partir do dia seguinte, um domingo, para que, junto a nós,
iniciassem as providências no sentido de que o cenário fosse devidamente
preparado, com palco e sistematização de todos os locais de acomodação para o
público.
Já no sábado seguinte, com o ambiente devidamente
qualificado, o público acorreu em massa, superlotando todas as dependências do
local. E, no começo da noite, lá nos
posicionávamos para aquele maravilhoso encontro. Num camarote bem destacado,
era onde se encontrava o Emir, com toda a sua família, inclusive a “princesa” e
o jovem esposo. Simplesmente empolgante, o espetáculo. Que contou,
supreendentemente, com a participação do povo, cantando junto as três canções
em extrema promoção internacional.
Vale referido que todos os meios de comunicação, depois do
casamento, abriram os maiores espaços para os comentários, exaltando a forma
perfeitamente original como ocorreu a solenidade, toda ela acompanhada pela
execução de um arranjo muito especial da orquestra. Inclusive, classificando
aquele ato como o mais expressivo de que se tinha conhecimento,
internacionalmente. A repercussão no exterior levou o mesmo sentido de
exaltação, ao considerar o casamento como a solenidade mais expressiva em todos
os anos e em toda a parte.
Um fato que consagrou e encerrou todo aquele contexto foi
que, para um espanto mesmo meu, fui contemplado pela assembleia nacional
daquela nação com o título de cidadão local.
Depois de todos aqueles extraordinários acontecimentos, retornamos
a Salvador.
E aqui também se encerrou o tão estranho sonho.
Ainda hoje, acordado, claro, sinto repercussões em meu
pensamento, diante da fantástica história onírica.














Afinal foi um sonho, ou verdade???? Estou desconfiada que foi um sonho mesmo!
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