Muitas situações estranhas ocorrem nos jogos de futebol

(CARLOS CASAES e CARLA MARIA)


Eu exerci as funções de redator esportivo por cerca de 20 anos. Fui titular nos antigos veículos “Diário de Notícias” e “Estado da Bahia”, dois jornais diários (matutino e vespertino, respectivamente), inclusive chegando à condição de “chefe de página” – à época, existia essa dicotomia: o matutino circulava a partir das 06:00 horas e o vespertino a partir do meio-dia. Em Salvador, àquela altura, ainda circulavam o matutino Jornal da Bahia, do empresário de Feira de Santana JOÃO FALCÃO, e o vespertino A Tarde, da família do jornalista ERNESTO SIMÕES FILHO.

Ambos os veículos em que atuei integravam o grupo “Associados”. Quando afirmo que, este, foi um conglomerado de veículos de comunicação dos maiores do mundo, amigos que não o conheceram se espantam. Seguramente foi o maior da América Latina: normalmente, quando faço essa referência, imediatamente questionam-me se seria ainda maior do que o grupo “Rede Globo”.

Diante da dúvida, explico:  asseguro que sim e evidencio: que eu saiba a “Rede Globo” só possui veículos de propriedade da família MARINHO no eixo do sudeste (Rio/São Paulo). No restante do país, são muitos os veículos integrantes da rede, apenas que o são na condição de “afiliados”, e não como propriedade do grupo. É o caso, hoje, dos veículos daqui da Bahia: TV Bahia, jornal Correio da Bahia e emissora de rádio, que são apenas “coligados”, mas de propriedade da família do ex-senador Antônio Carlos Magalhães.

“Associados” maior organização jornalística


Enquanto os veículos “Associados”, em todos os estados brasileiros (jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão) eram de propriedade do jornalista paraibano ASSIS CHATEAUBRIAND. Aliás, vale mencionado de que o mesmo foi o introdutor da televisão no Brasil. Por conta disto, eram veículos “Associados” daqui de Salvador a TV Itapoã, a Rádio Sociedade da Bahia e os dois jornais. Por sinal, o grupo aqui era dirigido pelo, também jornalista, pernambucano, ODORICO TAVARES.

É oportuno que lembre o fato de que, por volta de 1976, o jornalista ASSIS CHATEAUBRIAND (que chegou a ser uma personalidade do maior prestígio no país e internacionalmente) acabou saindo de circulação, por conta de ter sido acometido por um “AVC”, que o desativou completamente de qualquer atividade. Prostrado que ficou em uma cadeira de rodas. Foi a razão da derrocada de toda a organização, pois, embora o Senador pelo Espirito Santo, JOÃO CALMON, que era seu amigo e exercia a condição de Superintendente do grupo, desenvolvesse todos os esforços no sentido de preservar a organização, a ausência da ação do “comandante” e o fato de que só tinha um filho – seu herdeiro universal - que não se identificava com a atividade, a organização diluiu-se inteiramente em todo o país. Aqui em Salvador, os dois jornais simplesmente fecharam, enquanto as emissoras de rádio e de TV foram vendidas.

A minha experiência com o esporte

Essas referências, o faço por conta de esclarecer que tive bastante intimidade com o esporte naqueles anos, por força do envolvimento profissional. Particularmente com o futebol (mas, também, com o esporte amador), o que me fez conhecedor de todos os meandros dessa atividade. Então, ainda hoje, quando acompanho os jogos daqui de Salvador, do Brasil, ou mesmo do exterior, o faço com olhos de crítico profissional. É o caso do fato de que sou um “cara” extremamente surpreso com alguns lances que estão ocorrendo no futebol atual, que não tinham evidência àquela época – décadas de 1956 a 1976, por exemplo.

Aquela minha condição, por sinal, foi a responsável por eu ter editado nada menos do que três livros sobre futebol: “Bahia de Todos os Títulos”, “Futebol, Paixão e Catimba” e “Esporte Clube Bahia, uma história de lutas e glórias”.

 Aliás, bom também que recorde que, com respeito ao futebol, sou do tempo em que, aqui em Salvador, esse esporte começou a ter a sua relevância no Campo da Graça. Hoje, o local é considerado como um dos mais nobres bairros da cidade: a Graça. Era a época em que algumas situações eram totalmente diversas do que ocorre hoje. Por exemplo: o placar nem imaginava que um dia seria “digital” com as suas imagens animadas transmitidas simultaneamente, inclusive com os lances do jogo, tanto quando as diversas mensagens. Então, o placar, com os nomes dos adversários, era produzido antecipadamente em placas de madeira e pintadas.

As situações tão curiosas de hoje

No caso, da mesma sorte, naquele mesmo placar o escore do momento, na competição, era determinado por placas com os números desenhados a tinta, que eram mudados manualmente na medida em que os tentos iam acontecendo. Um outro pormenor interessante é que, do mesmo modo àquela época, a assistência no caso de contusão era proporcionada através de um médico e um massagista. Este com atuação por vezes mais destacada. Nunca raro existia, na competição, apenas uma bola e quando ela caía na rua – o “estádio” era muito pequeno e arremessos violentos às vezes fazia ultrapassar a altura das arquibancadas – tinha-se que aguardar que alguém fosse busca-la. 

Um outro pormenor muito interessante para os dias que correm é que ainda não havia sido adotada a possibilidade de substituição de atletas. Como ocorre hoje, com até, no máximo, 5 jogadores por equipe. Então, quando um titular era vítima de contusão que o dificultava de continuar jogando, não deixava o campo. A não ser que fosse alguma coisa suficientemente grave. O que acontecia era que, se a contusão fosse relativa, de modo a não lhe proporcionar as condições normais para continuar atuando, ele era, sistematicamente destinado a se situar pela “extrema direita”, posição que o deixava praticamente sem utilidade. Apenas para não desfalcar a sua equipe.


Da mesma sorte como a escalação das equipes não contemplava, como hoje, as diversas fórmulas. Permanentemente, todos os times tinham a sua escalação da seguinte e mesma forma: goleiro, dois zagueiros, uma linha média com três atletas, e o ataque com cinco integrantes (ponta direita, meia direita, centroavante, meia esquerda e ponta esquerda).

Há algum tempo, inventaram algumas fórmulas para escalação, como o “WM” e tantas mais. Alguns outros exemplos das fórmulas de escalação: 433, 442, 532, 343, 451, 532, 4141, 424, e por aí.

As equipes e suas torcidas

Vale lembrado de que, para iniciar a competição, as equipes não ingressavam no gramado conduzidas pelos árbitros e enfileiradas, para ouvirem a execução do Hino Nacional. Como ocorre nos nossos dias. Cada qual entrava no gramado isoladamente, correndo até a localização de suas torcidas que, evidentemente, iniciavam a sua extrema vibração.



Lembro, mesmo, de um episódio àquela época, que mostra como era poderosa, já, a torcida do Bahia. Num evento em que o tricolor atuava contra um outro adversário na Fonte Nova, era árbitro da contenda o consagrado nacionalmente – à época – Armando Marques. Contou-me, quem assistiu ao ocorrido que, quando a equipe tricolor deveria ingressar no gramado, o seu Presidente, OSÓRIO VILLAS BOAS, conteve os atletas na “boca do túnel” – saída para ingressar em campo – aguardando que o árbitro tivesse acesso ao gramado. Quando Armando Marques entrou, então Osório “soltou” os atletas tricolores, o que provocou uma verdadeira explosão da sua torcida que lotava a Fonte Nova. Após a competição, então, o curioso e interessante é que - assegurou-me o amigo que havia testemunhado o fato - de que o Armando Marques, diante daquela efusão de aplausos, teria dito aos seus auxiliares:

- Um time que tem uma torcida dessas não pode perder um jogo. 


         Uma questão que me incomoda seriamente é pertinente ao início de uma competição de futebol. Já há algum tempo que, antes do início, rigorosamente, do jogo, os árbitros se perfilam em frente às “tribunas de honra” dos estádios, com as respectivas equipes ao lado. É executado, então o Hino Nacional Brasileiro. A ocorrência inusitada é que, seguidamente, a maioria dos atletas (dos dois clubes adversários) não entoa o nosso hino. Enquanto, nas arquibancadas, as torcidas prosseguem com a barulheira dos seus tambores. Ao lado disto, em todas as competições internacionais que assisto regularmente, os jogadores de ambos os times, com especial entusiasmo, cantam os seus respectivos hinos, o mesmo ocorrendo com as arquibancadas. Por acaso, no jogo de ontem (hoje é quarta-feira, “Dia da Consciência |Negra”, por sinal – e dia 20/11), no encontro entre a seleção brasileira e a do Uruguai, todos os nossos representantes, em campo e no banco de reservas, mostraram-se entusiasmados ao entoar o nosso belíssimo Hino Nacional. Fato que me agradou especialmente. Que o exemplo frutifique.

Ousadia inconsequente


Vale, ainda que eu lembre de que, por força da minha condição profissional, assistia aos jogos da “tribuna da imprensa”. Mas houve época em que eu me situava bem dentro do campo, mais precisamente na parte em frente às cadeiras numeradas e tribunas, no centro. Evidentemente, à distância do gramado. Outras vezes até mesmo por trás do gol, na parte que fica voltada para o “Dique do Tororó”.

Num daqueles momentos, o Bahia enfrentava o Vasco da Gama. E era técnico do alvinegro carioca o festejado, à época, Yustric. Na realidade, ele era um homenzarrão. De constituição bem avantajada. Em determinado momento, por conta da marcação de uma irregularidade qualquer, ele não se conformou e ameaçou invadir o campo. Instintivamente, eu, então, parti para ele assegurando de que, aqui na Bahia, ele não iria “colocar as suas manguinhas de fora”. Imaginem a minha ousadia. O fato oportuno foi que outras pessoas do próprio “banco” do Vasco, interviram e eu me livrei de uma situação bem complicada.

Na Bahia, como era o futebol


Ainda como curiosidade, de momento, o futebol baiano era integrado pelos seguintes clubes. Esporte Clube Bahia (que já começava a se projetar), Vitória (que, nem de longe, imaginava que teria esse prestígio de hoje), Ipiranga (que era o clube mais popular da época), Botafogo, Guarani, São Cristóvão, Galícia (da colônia espanhola) e, já surgindo, o Leônico.

Um outro fato curioso é que, à época, como não havia televisão – que somente depois de muito tempo é que foi introduzida no Estado – aqueles torcedores que não podiam ir aos estádios, contentavam-se com ouvir as transmissões radiofônicas. Como sempre, com exposições extremamente exageradas pelos narradores – aliás, como ainda hoje.


Um caso que me surpreende extraordinariamente, hoje, é testemunhar, em jogos que assisto, o “choque de cabeças entre dois atletas adversários”. É, realmente, impressionante como isto ocorre em todos os jogos, com uma facilidade que me preocupa. Àquela época, não lembro de assistir “acidente” semelhante. Por sinal, um fato isolado que ocorria com frequência – e tão somente este -  era o choque de um adversário com o zagueiro ARNALDO, do Esporte Clube Bahia. Que me ocorra, este sim, quase sempre a sua impetuosidade era tamanha para “rebater” a bola com a cabeça, que acabava lesionado, de sorte que, às vezes, até tinha que “levar pontos”. Mas, se me recordo, somente esse era recorrente. Fato que o levava a sempre atuar enfaixado e com uma touca protegendo sua cabeça.

A agressividade de hoje

Hoje, rigorosamente sempre que dois adversários disputam a bola pelo alto, acabam mesmo simulando uma contusão mais séria, de tal sorte que induzem a interromper a competição. Por sinal, é frequente esse incidente. Não são raras as oportunidades em que, de cá do lado da TV que nos transmite o jogo, percebemos claramente a simulação. E isto ocorre pela oportunidade da reprise da gravação do lance pela emissora que transmite o embate, que proporciona o ensejo do público assistente a situar perfeitamente o lance sem maiores consequências. No entanto, por considerar a possibilidade de ocorrência grave, por envolver a cabeça do jogador, o árbitro, invariavelmente, interrompe o jogo e convoca as equipes médicas das duas agremiações. Perdendo-se valiosos minutos nessa operação. Somente em algumas raras oportunidade a contusão se verifica, realmente.



Uma outra constante ocorrência, em todos os jogos, é o fato de que dois adversários quando disputam a posse da bola pelo alto, aconchegam-se de tal sorte, utilizando-se dos braços que os impulsionam, o que leva a conter o adversário. Nunca raro, muito ao contrário e com frequência surpreendente, chegando a atingir o rosto do seu contendor. Por conta do que, evidente, o atleta contrário, rigorosamente, despenca a se contorcer como se o acidente motivasse uma lesão de natureza bem mais grave. Espanto-me ainda mais pelo fato de não verificar que o árbitro perceba a simulação.

Aliás, tanto nesse episódio como em todos os demais que envolvem “faltas”, o jogador que se sente atingido, seguidamente atira-se no chão, com o rosto “enterrado” na grama. Da mesma sorte, surpreendo-me com aquela facilidade com que eles permanecem alguns minutos, até, com o rosto “enfiado” na grama. Esse episódio, por acaso, me perturba por não entender com que facilidade os profissionais se deixam ser rigorosamente “enterrados” com suas faces “enfiadas” na grama.

A simulação é uma tônica

Por sinal, é uma experiência curiosa verificar o quanto, com que frequência, também, os atletas simulam gravidade nas supostas contusões. Do lado de cá do “vídeo”, percebemos claramente que a atitude do jogador é de simular a seriedade da contusão, com o objetivo de influenciar o árbitro a “punir” o seu adversário. Mais ainda, a surpresa é pelo fato de que o árbitro nunca se dá contas da situação real e aceita a simulação como contusão grave. Nunca raro usando até o “cartão” contra o adversário. No entanto, quando a competição prossegue, o mesmo atleta levanta-se fagueiro retorna atuando, como se nada houvesse ocorrido. Sem a menor admoestação pelo juiz que comanda a competição.


A mesma simulação acontece quando uma equipe se encontra com o placar favorável e os seus atletas, da mesma sorte, simulam contusão com o objetivo de fazer o tempo passar. Por vezes, até o árbitro sinaliza no sentido de que irá descontar aquele tempo.

Por conta de tais procedimentos, é impressionante a quantidade de faltas numa mesma disputa. Uma outra dessas situações ocorre quando da cobrança dos escanteios. É incrível como os atletas se comportam dentro da área, quando da cobrança dos escanteios. Invariavelmente, os defensores da equipe que concedeu a irregularidade, na tentativa de evitar que os adversários tenham condições de intervir quando a bola lhes for lançada, simplesmente “abraçam” agressivamente o seu contendor buscando neutralizá-lo, fato que, naturalmente, deveria ser considerado como o cometimento de penalidade máxima. No entanto, quando muito, são admoestados pelo árbitro, o que não lhes conduz, todavia como deveria ocorrer, a interromper aquele comportamento. Comportamento, por sinal, que continua a ocorrer no mesmo lance, como também em outras faltas, com a costumeira tolerância do juiz.

Um lance que ocorre habitualmente é o que denominamos de “carrinho”. Quando um atleta, para evitar a sequência do lance pelo seu adversário, projeta-se escorregando por baixo e objetivando atingir, com os pés, as pernas do contendor. Nunca raro, atingindo agressivamente o corpo do contrário. Considero esse lance, este sim, como uma falta tão grave, a ponto de entender que deveria merecer punição com “cartão vermelho”. Isto, pelos riscos que são provocados.

Os atletas até “peitam” os árbitros


Aliás, causa indignação, também, ver como muitos atletas se comportam no relacionamento com os árbitros, quando protestando contra a consignação de qualquer irregularidade. A agressividade, por gestos e palavras – peitando-os, até - torna-se repugnante, nunca raro com a tolerância dos juízes que se manifestam até como se nada houvesse ocorrido, mesmo. É raríssima a oportunidade em que é utilizado, contra tal procedimento, o cartão.

Uma outra situação, tão estranha quanto às já mencionadas, é a atuação dos auxiliares de linha – os proclamados “bandeirinhas”. Sobretudo quando do cometimento do “impedimento”, o auxiliar reserva-se tão somente a aguardar que o lance prossiga, até uma conclusão do que, nunca raro, resulta na feitura mesmo de um tento. Somente depois de tanto tempo é que se decide a assinalar a irregularidade. Desconhecendo o fato de que tal irregularidade ocorre precisamente no momento em que o atleta, em posição incompatível, investe para receber a bola. Entendo, portanto, de que esse comportamento, invariavelmente, ocorrendo em todas as oportunidades, deva ser consequência de uma recomendação das autoridades maiores de todas as competições, ou seja, até procedente da própria FIFA, fato que é, realmente, de se estranhar.

Nunca raro os árbitros “fazem que não veem”

Aliás, por tudo isto que aqui se encontra relatado – e por muitas outras situações similares – salta à vista a forma tolerante com que os juízes de futebol se comportam, por vezes e durante as competições. Fazendo, nunca raro, “vistas grossas” a umas tantas irregularidades que ocorrem durante o jogo. Alguns parecem sentir um peso imenso em empunhar o cartão – seja verde ou vermelho – quando necessário.

Por sinal, bom que me refira, finalmente, à existência, hoje, do VAR, uma inovação introduzida que merece todos os encômios, pela oportunidade em que, por tantas vezes, é utilizado. É quando se pode testemunhar o quanto os árbitros e auxiliares se equivocavam e deixavam de consignar irregularidades incontestáveis, por conta, evidente, de um posicionamento mal colocado que não permitisse identificar a “falta” durante o lance. No caso especial, sobretudo, da consignação dos “impedimentos” e da penalidade máxima, nunca raro é o VAR que localiza e projeta com especial clareza o lance.

Bahia é o primeiro campeão brasileiro



Quando da ocorrência da instituição de um evento nacional de futebol, a TAÇA BRASIL, o Esporte Clube Bahia foi convidado pela CBF para integrar o grupo que concorreria àquele título, na qualidade de representante do futebol baiano. O mais importante para nós, torcedores tricolores, foi que a nossa equipe acabou se sagrando como a primeira “campeã nacional”. O que, como lembrado, ocorreu em disputa final contra o Santos, de Pelé, Coutinho, Mengálvio e tantos mais “cracaços” como titulares. Com o último jogo no Maracanã. Por acaso, eu lá me encontrava, pois havia sido convidado para acompanhar a delegação.

Alguns fatos curiosos: primeiro, quando o grupo deixou o Estádio do Maracanã, no Rio, o surpreendente foi que, àquela época, ficou evidente que o Bahia já contava com grande torcida no Rio de Janeiro. Pois, quando a delegação se deslocou em demanda ao hotel onde se encontrava hospedada, na Praia do Flamengo, praticamente por todas as ruas por onde transitava haviam dezenas de torcedores esperando para aplaudir com entusiasmo. Tanto quanto, ao chegar no hotel, uma verdadeira multidão aguardava os atletas baianos com a maior empolgação, dificultando até o acesso à hospedagem.

   Políticos baianos aguardavam

Ao chegarmos ao hotel, surpreendemo-nos com a presença de inúmeros políticos baianos. Como o Deputado Federal ANTÔNIO CARLOS MAGALHAES, o Vice-Governador baiano, ORLANDO MOSCOSO, o Senador LIMA TEIXEIRA, o Presidente da, então, FBDT (Federação Baiana de Desportos Terrestres), General ANTONIO BENDOCHI ALVES, dentre outros, todos dispostos a se congratular com dirigentes e atletas. Um curiosíssimo episódio ocorreu, então, no hotel e com aqueles políticos, por conta da iniciativa de um repórter de uma emissora de rádio de Salvador.

Ele encontrou ali uma excelente oportunidade para tirar proveito da situação. E propôs àquelas personalidades a possibilidade de transmitirem mensagem diretamente para a Bahia, através da sua rádio. Com a aprovação unânime – claro – o mesmo repórter esclareceu de que, como se tratava de um contato telefônico para a consecução daquela ideia, haveria um custo. Todos, claro, concordaram em assumir aquele ônus.

O repórter, então, ascendeu ao aparelho telefônico e começou a simular contato com a base da emissora aqui em Salvador. Só que, em verdade, embora repetisse inúmeras tentativas com a “chamada”:

- Alô Salvador! Alo Salvador!

que reproduzia insistentemente, ele estava falando, na verdade, diretamente era para o seu quarto no hotel, onde se encontrava um outro repórter seu colega que atendia, também, com a simulação:

- Alô Fulano, Alô Fulano, sua mensagem está entrando bem aqui em Salvador, pode iniciar as entrevistas!

Ai o repórter que teve a iniciativa começou a entrevistar cada um daqueles políticos, como se o contato estivesse “entrando no ar” diretamente em Salvador. A sorte deles foi que gravaram todas as entrevistas e, embora alegando terem se surpreendido com o fato de que o “sinal” não havia “entrado” bem na Bahia, no dia seguinte, depois de chegarem na capital baiana, reproduziram todas as entrevistas. Salvando-se de um entrevero, mas com todos os valores simuladamente correspondentes “ao custo da ligação”, no bolso.  

Bahia foi bi-campeão

Ainda mais curioso foi que, na disputa seguinte da mesma competição (TAÇA BRASIL), o Bahia voltou a conquistar o título de campeão, contra o Internacional. A final ocorreu, por sinal, em Porto Alegre, cada uma das equipes com uma vitória. O importante foi que o Bahia tinha melhor saldo de gol e, no jogo final, logrou um empate com a equipe gaúcha, o que lhe valeu a conquista de mais um espetacular título, pois. Então o Bahia foi, e ainda é, “bicampeão” brasileiro.

Aconteceu ali, por sinal, o fato de que o retorno da delegação tricolor proporcionou um espetáculo, por acaso, nunca visto na cidade: parecia que toda a população baiana deslocara-se para as ruas por onde desfilou a delegação do Bahia. A chegada ocorreu em torno do meio-dia e eu, com a família, fui aguardar o desfile dos atletas – que aconteceu em carro aberto do Corpo de Bombeiros - na rótula próxima ao aeroporto.

A multidão comprimiu-se desde mesmo o aeroporto, confluindo por todo o percurso do cortejo que passou por Itapoã, Placa Ford, toda a Avenida Octavio Mangabeira, Boca do Rio, Aeroclube, Centro de Convenções, Pituba, Amaralina, Rio Vermelho, Ondina, Barra, Avenida Sete de Setembro, Campo Grande, Piedade, São Pedro, São Bento, Praça Castro Alves, Rua Chile, até a Praça Municipal (Tomé de Souza). Onde somente chegou já altas horas da noite.

A multidão que acorreu a todo o trajeto foi de tal sorte grandiosa e o entusiasmo era tamanho que, ao passar pelo Bairro da Boca do Rio (por sinal em frente à antiga sede de praia do próprio Bahia), sem que a segurança pudesse conseguir conter o povo em torno do caminhão, o próprio veículo onde os atletas desfilaram, lamentavelmente – sem que o motorista percebesse - atropelou uma senhora que, fatalmente, faleceu por conta do acidente.

À época, o Vitória ainda não era tão popular

Na realidade, àquele tempo, o Esporte Clube Vitória era um clube considerado da elite baiana. Não havia, ainda, alcançado a popularidade de hoje, que já é considerável. Alguns episódios também envolvem o rubro-negro: por exemplo, de que a sua investida em busca do apoio do povão ocorreu por conta de dois seus ex-presidentes: PIRINHO (que foi um político baiano ex-Prefeito de Cachoeira e ex-Deputado Estadual) e PAULO CARNEIRO. Sobretudo o primeiro. E tal ocorreu pelo fato de que eram duas personalidades muito populares em Salvador.

Um outro fato extremamente curioso foi que o Vitória, então presidido, ao que me lembre, pelo Capitão da Polícia NEY FERREIRA, por algum procedimento equivocado, foi punido pela Federação Baiana de Desportos Terrestres. Era seu Presidente, à época, o prestigiado intelectual baiano, Diretor da Faculdade de Direito da Bahia, Prof. ORLANDO GOMES. Ocorreu que, inconformados com a admoestação pela Federação, a Diretoria rubro-negra, imaginando a possiblidade de que uma sua atitude pudesse pressionar ao Presidente da entidade, disse-se inconformada, por conta do que solicitava a desfiliação do clube. Certos de que a atitude causaria um rebu no futebol baiano. No entanto, o jurista ORLANDO GOMES, com muita simplicidade e pleno de autoridade, apenas apôs na petição encaminhada pelo rubro-negro o despacho: “Como pede”.

Totalmente surpreendido com aquela demonstração de autoridade, os diretores do Vitória correram na decisão de voltar atrás e desistiram da desfiliação.

Àquela época, a, então, Federação Baiana de Desportos Terrestres era sempre presidida por figurões da sociedade, da cultura e do esporte baianos, tais os já citados General ANTÔNIO BENDOCCHI ALVES, Professor ORLANDO GOMES, o médico WALNEY MACHADO, dentre outros.

Apoios políticos beneficiaram ao Vitória

Dois outros episódios envolveram o Vitória, resultantes de que a sua direção, em dois momentos distintos, conseguiram apoio de destacados políticos baianos para alcançar algumas excepcionais vantagens. A primeira delas foi a inclusão do rubro-negro como representante do futebol baiano, ao lado do Esporte Clube Bahia, no elenco nacional.

A questão foi que o Bahia havia sido incluído na elite do futebol brasileiro pela própria Confederação Brasileira de Desportos. Inconformados pelo fato de que o Vitória – já, então, a segunda força do futebol baiano – havia ficado de fora, os seus dirigentes conseguiram envolver o grande político baiano ANTONIO CARLOS MAGALHÃES – que, por sinal, era torcedor rubro-negro. E este “mexeu os pausinhos” junto aos dirigentes do futebol brasileiro e conseguiu, jogando ali o seu largo prestígio, que o segundo clube baiano fosse incluído também entre os demais para a disputa dos certames nacionais.

Um segundo episódio, tão importante quanto – ou até mesmo mais importante -  foi a excepcional conquista que os dirigentes rubro-negros de então alcançaram. Era Governador, à época, o político de Feira de Santana, JOÃO DURVAL CARNEIRO. E era seu sogro, pai da sua esposa, o cidadão MANOEL BARRADAS, um notório, também, rubro-negro. Através da ascendência do BARRADAS diante do, então, Chefe do Estado, os próceres rubro-negros conseguiram convencer ao Governador de que um amplo terreno na periferia de Salvador fosse concedido ao clube. Por consequência do que, então, foi construído o estádio que, por essa razão, leva o nome do seu benfeitor, MANOEL BARRADAS. Estádio que, hoje, é um espetacular patrimônio do clube e é mais conhecido como “BARRADÃO”. 

São algumas situações, pois, que me permito evidenciar para avivar a nossa mente.

Comentários

Mensagens populares deste blogue