Em Salvador, a primeira rua do
Brasil: Rua Chile
(CARLOS CASAES e CARLA MARIA)
A Cidade do Salvador, que é a capital do Estado
da Bahia, foi fundada, realmente lá pelos idos de 1549. Naquela oportunidade,
chegava à cidade uma expedição portuguesa que trazia por intenção a fundação
da cidade como Capital da nova colônia. Foi precisamente naquele momento
que, então, surgiu mesmo Salvador na qualidade de cidade. Por incrível que
possa parecer, sem que, até ali, o espaço fosse considerado como província.
Admitiu-se, então, como modelo, o próprio estilo português, claro, que se destinava a cidades costeiras. A intenção era de eleger um local que se encontrasse em considerável altura, com respeito ao nível do mar. O objetivo, naquele momento, era de possibilitar uma melhor condição para a sua defesa, porquanto, àquela época, eram comuns as invasões estrangeiras.
O surgimento da primeira rua
Antevia-se, naquela oportunidade, a possível existência de uma cidade construída e murada, que tivesse duas portas de entrada. Foi então que, precisamente, surgiu aquela que se constituiria como a primeira rua do novo país: Brasil. De começo, a sua denominação foi como Rua Direita da Porta de Santa Luzia. Com o advento do desenvolvimento da própria cidade teve a sua denominação sofrido mudanças. O que, por absoluto acaso, foi influenciado por uns certos acontecimentos.
A própria dinâmica da vida da cidade determinava
a evolução da atividade comercial na área. Por conta do que ocorreu mais uma
mudança da sua denominação, passando a ser conhecida como Rua Direita dos
Mercadores. Com o passar dos anos, aquela rua foi sendo enriquecida por
algumas novas construções, do que é exemplo o próprio PALÁCIO DO GOVERNO, hoje
conhecido como Palácio Rio Branco. Em consequência, por sinal, ocorreu
uma nova mudança do nome da rua, que passou a ser denominada como Rua
Direita do Palácio.
Entrevero com país andino gerou o
novo nome
No entanto, foi somente muito tempo depois,
precisamente em 1902 que aquela artéria recebeu o seu novo nome, que seria, por
sinal definitivo: RUA CHILE. O curioso foi que aquela denominação
decorreu da mesma sorte, por conta de um evento totalmente diverso. Testemunhou-se,
então, a morte de dois embaixadores chilenos, por consequência de um surto da
peste bubônica. Fato que resultou nas duras críticas do governo daquele país do
extremo sul da América, até mesmo com a ameaça de corte das relações
diplomáticas.
Como reação àquela atitude do país amigo e numa
demonstração do apreço pela amizade que os unia, foi que, aqui, em sua
homenagem, mudou-se o nome da artéria para RUA CHILE. E tal
ocorreu logo após a visita que fez a Salvador uma esquadra chilena, fato que
gerou, inclusive, uma bela festa na cidade para comemorar o privilégio da
presença do agrupamento militar chileno. E a vinda dos navios ocorreu para
resgatar os corpos dos embaixadores atingidos pelo grave contágio. Aquela
atitude dos baianos foi interpretada como mesmo resultante de um movimento
político que teria alcançado um considerável destaque nacional e internacional.
A mais importante artéria da cidade
A condição estratégica da localização daquela artéria foi determinante para que se constituísse a RUA CHILE, durante mesmo muitos séculos, no mais importante ponto da cidade, até porque, em virtude da sua privilegiada localização, manteve-se como o principal portão de entrada do centro histórico de Salvador. Ao lado de que era, realmente, extraordinário o seu “glamour”. Fato que decorria, sobretudo, pela existência do seu comércio, cujas lojas foram as principais em toda a cidade e durante muitos anos. Até porque era ali que, costumeiramente, eram exibidas as novidades da moda, que eram destaque na Europa, e mesmo no Rio de Janeiro e São Paulo.
Um fato extremamente curioso é que a RUA CHILE se encontra disposta por, tão simplesmente, 400 metros de extensão. No entanto, aquele espaço constituiu-se, historicamente, em importante ponto de experimentação e desenvolvimento urbano. É exemplo dessa afirmação o fato de que foi ali que se instalaram as primeiras linhas de bondes na cidade. Da mesma sorte como foi ali o local onde foram instalados os primeiros postes de iluminação pública. Iluminação que, por sinal e à época, era promovida a gás. Tanto quanto, foi na Rua Chile onde funcionou, pela primeira vez, uma escada rolante (por sinal, no grande Magazine Duas Américas, que atendeu ao público baiano por muitos anos). Além do que, era ali onde ocorriam os mais importantes acontecimentos, como, por exemplo, os desfiles dos Clubes e dos Blocos Carnavalescos.
Alguns especiais estabelecimentos
É de se atentar para o fato de que, da mesma sorte que se constituiu em um outro muito especial acontecimento, em 1934, foi inaugurado o PÁLACE HOTEL, estabelecimento no qual, surpreendentemente, se fazia funcionar no seu interior um CASSINO. Àquela época, o PÁLACE HOTEL transformou-se num referencial tanto de luxo quanto de glamour, porquanto era ali que se hospedavam as destacadas personalidades que visitavam a cidade. A exemplo de muitas estrelas do cinema internacional, bem assim e da mesma sorte, da literatura, dos esportes, como da política.É indispensável observar de que, tanto o hotel quanto o seu cassino, encontram-se imortalizados numa das mais destacadas obras do consagrado escritor baiano JORGE AMADO, que foi “DONA FLOR E O SEUS DOIS MARIDOS”.
Embora a RUA CHILE se constituísse
no centro das atenções da população baiana durante tantos anos, como
consequência da expansão da cidade, sobretudo por se encontrarem ali os grandes
estabelecimentos comerciais, especialmente da moda, na cidade (Loja Duas
Américas, Sloper, Africanas, Adamastor, bem assim a barbearia do famoso SPINELLI,
e tantas mais) o foco das mesmas atenções foi se transferindo para outros
locais, ficando aquele especial espaço desprezado.
Curioso que mencionemos que o prédio da Loja Duas Américas era composto por três andares. No último dos quais, na parte traseira, funcionava a sua "Casa de Chá", com uma bela vista para a Bahia de Todos os Santos e na qual, nos fins de tarde, havia sempre a apresentação do famoso pianista baiano da época, EDUARDO RAMOS. Vale lembrado de que as "Duas Américas" patrocinavam um programa semanal na TV Itapuã, no qual sorteava sempre 5 carros 0 km (Simca Chambort), programa que era comandado pelo conhecido apresentador (meu amigo e parceiro) Armando Chaves, mais conhecido na sua "roda de amigos" como "piriquetinha". Para apresentação em cujo programa também contratava os principais cartazes da música brasileira. Programa que, por sinal, rivalizava com outro patrocinado pelas lojas Florensilva.
As Lojas Sloper comercializavam novidades como bijuterias, bolsas, sapatos, vestuário para senhoras e crianças, roupa de cama e mesa, artigos para presentes e perfumaria. Um outro importante estabelecimento foi a Loja Milano, ou Casa da Música, que, periodicamente, trazia também famosos artistas, mas para lançamento de discos, promovendo tardes de autógrafos, como ocorreu com os conjuntos vocais "Os Quitandinhas Serenades" e "Quatro Azes e um Coringa". Da mesma sorte como a "Confeitaria Chile" realizava, vez por outra, shows até com artistas estrangeiros, como com o grupo cubano "Lia Ray e seus Mambos Dandies". Sinalizem-se, também, outros estabelecimentos como Nova América, Sapataria Elite, Chapelaria Baiana, Farmácia Chile, Casa Alberto, Ótica Baiana, A Moda, ETAM, bem assim a concorrida Livraria Civilização Brasileira.
Um outro espaço muito badalado era a "Gruta de Lourdes", espécie de café que era instalado em apenas um corredor de um prédio, mas que era frequentado, sobretudo, em fins de tarde, por políticos e jornalistas.
O surgimento dos shoppings
O fenômeno ocorreu sobretudo pela instalação dos “shoppings
centers” e pela abertura de novas artérias, sobretudo avenidas,
especialmente voltadas para a região norte da cidade. As mudanças foram de tal
sorte que até mesmo a sede do Governo do Estado transferiu-se de local. Ainda
porque uma das muitas razões de terem ocorrido tais mudanças foi o fato de o
espaço ficar rigorosamente impossível de conter o aumento significativo da
população da cidade. Por consequência,
foram muitos os imóveis ali abandonados. Alguns até vítimas do vandalismo pela ociosidade
em que se encontravam.
Como exemplo de que, na história, as situações são
envolvidas em permanente evolução, a RUA CHILE foi contemplada
com a sua revitalização, a partir de 2018, tais as melhorias que ali foram
introduzidas. Do que são exemplos alguns fatos muito especiais, a partir da
instalação do FERA PÁLACE HOTEL, que ocupou o espaço onde
funcionou, durante tantos anos, o PALACE HOTEL. (o que me faz lembrar do
querido e saudoso amigo LUIZ DOMINGUES, que comandou aquele estabelecimento
por tantos anos).
A mesma situação ocorreu no antigo prédio onde
funcionou, também por bons pares de anos, o Jornal A Tarde. Nele, o grupo
paulista, instalou, inaugurou e pôs em funcionamento o HOTEL FASANO. Ambos
os hotéis são considerados como dos mais destacados da cidade, fazendo par com
o antigo HOTEL DA BAHIA (adquirido pelo, também, querido amigo GUILHERME
PAULUS), já há alguns anos, funcionando agora com a denominação de FISH
HOTEL.
Um outro especial destaque é que na confluência
da RUA CHILE com a Praça Castro Alves, encontravam-se os cinemas GLÓRIA e
GUARANI. Enquanto mais adiante, entre a Praça da Sé e a Rua Saldanha da Gama,
encontravam-se os cinemas EXCELSIOR e LICEU. Era, por consequência, um hábito
das famílias, às tardes dos domingos, assistirem as projeções programadas e,
logo após, passarem na sorveteria A CUBANA, que funcionava
na entrada do Elevador Lacerda, na Praça Municipal, para degustar um “dusty
miller”, acompanhado por uns deliciosos bolinhos que só eram encontrados
naquele estabelecimento. A seguir, da mesma sorte fazia parte do programa
dominical um desfile pela Rua Chile, para apreciar as vitrines das
tantas lojas.
São tantos os curiosos prédios
E é precisamente na esquina da Rua Chile com
a Rua do Tira Chapéu que se situa também um espaço considerado histórico,
porquanto sede por muitos anos da Associação dos Empregados no Comércio – o “Palacete
Tira Chapéu”. Belíssima concepção do arquiteto italiano ROSSI BAPTISTA,
construído em 1917, como exemplar da arquitetura “art nouveau” e eclética,
que está sendo transformado em um importantíssimo “centro gastronômico”. Aos
três prédios foram integrados os terraços, transformando-se em um portentoso “rooftop”.
Onde foi, inclusive, realizada a nova edição do evento “CASAS CONCEITO”.
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