EVENTO POLÍTICO QUE SE MASCAROU DE PROPOSTA TURÍSTICA
Ocorreu
mesmo foi uma reunião “café-com-leite”
(CARLOS
CASAES E CARLA MARIA)
Estávamos lá pela década de 80. A atividade do jornalismo de turismo encontrava-se em fase exuberante, no que respeita à presença dos profissionais especializados em todo o país, especialmente através da representação da ABRAJET – Associação Brasileira dos Jornalistas de Turismo, em todos os Estados da Federação.
Em dado
momento, fomos convidados – os profissionais dos diversos Estados - a
participar de um encontro que se realizaria na cidade do sul de Minas Gerais,
Poços de Caldas, uma das mais destacadas do circuito das “Estâncias
Hidrominerais”. Explicavam a razão do convite, os Governos de São Paulo e
da própria Minas Gerais, com a afirmação de que a pauta constante para exame,
análise e apreciação seria “a importância das estâncias hidrominerais e a
necessidade de projetos oficiais destinados ao seu desenvolvimento”.
Escusado afirmar de que aquele convite me empolgou, simplesmente pelo fato de que sou um entusiasta daqueles centros de atividades que mesclam os interesses destinados aos cuidados com a saúde da população com o próprio turismo de lazer. Vi a oportunidade, ali, de uma ação oficial dos dois Estados onde se encontram os mais importantes centros urbanos que configuram aquela caraterística. Inclusive e sobretudo por entender que poderiam se beneficiar de ações que, daquele encontro demandassem, às próprias cidades baianas, como Itaparica, Caldas de Cipó, Caldas do Jorro, e por aí.
Como não poderia deixar de ocorrer, a participação dos jornalistas especializados foi maciça, com participação praticamente de todos os Estados, como eu que representava a imprensa baiana. Vale mencionado de que exerciam as funções de Governador do Estado os preclaros políticos TANCREDO NEVES, em Minas Gerais, e FRANCO MONTOURO, em São Paulo.
Ambos os
Governadores participaram da instalação do evento em Poços de Caldas e
prosseguiram com a presença em inúmeras reuniões. É indispensável que assegure
de que, aquela importante cidade do sul de Minas encontrava-se “abarrotada” de
políticos dos dois Estados: Prefeitos, Senadores, Deputados Federais, Deputados
Estaduais, Vereadores. Claro de que aquela avalanche de representações dos diversos
“partidos”, não simplesmente me surpreendeu, mas de deixou um tanto “cabreiro”.
É que não
entendia muito bem toda aquela avalanche de políticos de ambos os Estados, a
partir dos seus respectivos Governadores. E, observando cuidadosamente o
desenrolar dos acontecimentos, por conta das diversas reuniões que se
realizavam, comecei a desconfiar de que, em verdade, e indiscutivelmente, não
se tratava de um encontro de dirigentes interessados em examinar as questões de
natureza técnica e administrativa das “estâncias”.
Ali veio,
então, a conclusão lógica de que o que pretendiam os dois Governadores, na
realidade, era estabelecer condições para que ambos os Estados, dos mais
destacados da política nacional, pudessem desaguar numa possível candidatura
única à Presidência da República, cuja eleição já se aproximava. Pretendiam
sair na frente, diante de articulações a que outros destacados líderes dos
diversos partidos, no restante do país, já se vinham destinando.
Confesso que
aquela conclusão, ao lado de me deixar perplexo, gerou em mim uma profunda
reação negativa, inconformado pelo fato de ter sido logrado – não somente eu,
mas todos os demais companheiros – na minha boa-fé, prestigiando um evento
político, mascarado com a aura de reunião técnica. E não pude conter aquela
minha reação negativa, passando a todos os demais jornalistas a observação de
que, lamentavelmente, havíamos sido enganados, na verdade.
Ocorreu que
na noite do sábado daquele fim-de-semana, programaram um jantar na casa do
Prefeito de Poços de Caldas que, supostamente, seria em agradecimento pela
nossa presença e participação naquele encontro.
E, como ocorria em ocasiões como aquela, os companheiros da imprensa especializada, interpretados pelo saudoso e querido amigo JOÃO UCHÔA CAMARÂO – mineiro de boa cepa – designaram-me para promover o agradecimento da comunidade jornalística presente. Incontinente, recusei-me a cumprir aquela representação e expliquei de que não me conteria diante daquele logro de que fomos vítimas. Pois, em verdade, eu me encontrava bastante contrariado, mais que isto, decepcionado por não termos cumprido o que fora prometido, e termos deixado de resultar aquele encontro de condições excepcionais para beneficiar as “estâncias”.
Mas, nem
mesmo a minha veemência, na recusa, satisfez aos companheiros que prosseguiram
insistindo até que eu concordasse, ainda que alertados para o fato de que eu
iria “vomitar” aquela minha insatisfação, consignando a nossa decepção pelos
equívocos.
E,
finalmente, procedi o formal agradecimento, sobretudo ao Prefeito, que nos
recebia com tanta fidalguia naquela noite. Mas, não deixando de registrar a
nossa decepção pelo modo como fomos, de certo modo, ludibriados quanto as reais
razões do encontro político.
Como fato extremamente agradável, um dos Prefeitos presentes tentou de toda a sorte contornar a situação, buscando reconhecer de que, mesmo em virtude do objetivo político, buscou-se cuidar dos interesses das “estâncias”.
O mais
importante foi que, daquele certo “entrevero noturno”, que constituiu mesmo a
nossa despedida do encontro, resultou uma agradabilíssima consequência que foi
ter podido me aproximar de um cidadão, político, maravilhoso que resultou em se
tornar meu grande amigo: CARLOS HEITOR PIOLLI, Prefeito da cidade mineira de
Andradas, integrante também do circuito das águas.
Que, por
conta de um outro episódio que vai contado a seguir, tornou-se mesmo um grande
e querido amigo, a partir de então.
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