Em Pirapora, um episódio hilário entre os abrajetianos
(Visita e
viagem a um navio ribeirinho)
(CARLOS
CASAES e CARLA MARIA)
Deveríamos
exatamente nos encontrar no transcurso dos anos 80 a 90. Fomos convidados a
participar de um evento em Belo Horizonte. Como ocorria naturalmente àquela
época, os acontecimentos importantes do turismo brasileiro não prescindiam da
presença dos jornalistas especializados, sempre integrantes e representando a
ABRAJET – Associação Brasileira dos Jornalistas de Turismo.
Pela
oportunidade de nos encontrar em território das Minas Gerais, os companheiros
locais, habitualmente liderados pelo querido e saudoso JOÃO UCHÔA CAMARÃO,
tiveram a iniciativa de promover uma ida nossa a PIRAPORA, como extensão do
programa. O objetivo era de que pudéssemos participar de um passeio pelo rio São
Francisco, num dos últimos navios a vapor que ainda trafegavam na região.
PIRAPORA
em tupí: “salto de peixe”
PIRAPORA está situada a 340 km de Belo Horizonte e do maior polo industrial do norte de Minas Gerais, sendo, ainda, a 33ª economia exportadora do estado. Bem assim o 2º PIB norte-mineiro. Um fato interessante é que o seu nome provém da língua tupi significando “salto de peixe” = pira/peixe e pora/salto. Os índios que a margeavam eram os “cariris”. Por sinal, a cidade, em verdade, nasceu à jusante da cachoeira de Pirapora.
A par de
tudo isto, um outro fator da maior curiosidade é que a maioria das embarcações
que navegavam pelo rio eram as portadoras das tradicionais “carrancas”. Detalhes
que, em verdade, constituíam-se de esculturas à proa das transportadoras
fluviais. E, por um lado, serviam como amuletos protetores da navegação. A
história nos conta de que, em verdade, aquelas autênticas obras de arte proviam
desde o século XIX, destinando-se, como observado, a proteger os projetos de
navios.
Um outro fator interessante é que se acreditava que elas tinham poderes sobrenaturais de proteção dos barcos. Na realidade, aquelas carrancas representavam e, ainda hoje, são consideradas, como belos exemplares da arte popular. Por acaso, “modus e rebum” eram associadas a entidades espirituais, como integrantes do universo religioso afro-brasileiro, traduzidas, em verdade, como IEMANJÁ e EXU MARABÔ.
Para lá
fomos a fim de estar durante o final de semana, tendo sido recebidos com todas
as “honras” pelas autoridades locais, representadas, evidentemente pelo
Prefeito do município. Um outro pormenor é que também fomos recebidos pelo “Capitão
dos Portos”, porquanto, em virtude da cidade ser um porto fluvial atuante,
dispunha, da mesma sorte, de uma “Capitania dos Portos”.
E o objetivo
principal que nos havia conduzido até ali chegou a ser na verdade, cumprido,
porquanto, participamos de um passeio com navegação de um dos últimos daqueles
tão proclamados navios. Apenas o trecho em que navegamos foi de ida e retorno,
com um relativamente pequeno período de navegação, porquanto, à época, o espaço
a partir de Pirapora não era muito longo, em virtude da seca no norte de Minas
Gerais prejudicar a parte navegável do rio.
De
repente, um berro: “Dêem as mãos”
Na noite do
sábado, depois do curioso e interessantíssimo passeio pelo, denominado, “navio-gaiola”,
um dos seus últimos remanescentes, fomos contemplados com um jantar, no hotel
onde nos encontrávamos, por iniciativa do próprio Prefeito da cidade. O
objetivo era de agradecer a oportunidade da nossa presença naquele maravilhoso
espaço. E, na mesma ocasião, ali se encontravam, praticamente, todas as
principais autoridades do município, a exemplo do próprio Capitão do Portos –
já mencionado – do Juiz de Direito, do Promotor Público, do titular do cartório
local, Delegado de Polícia. Enfim, todas as autoridades da cidade.
Para
contemplar precisamente os fatos que ocorreram, lembrar de que, o companheiro
JOÃO UCHOA CAMARÃO, para variar e não se furtar ao procedimento habitual,
convocou-me para que eu proferisse o habitual agradecimento ao Prefeito, pela
sua iniciativa em nos receber com tanta fidalguia na cidade e, naquele momento,
nos homenagear com um belo jantar.
Embora fosse um procedimento que se estava tornando habitual, eu, naturalmente, e cortesmente, tentava transferir para outro companheiro aquela responsabilidade. Eu não gostava de ser considerado sempre o representante do grupo, em situações que tais. Naquela oportunidade, então, lembrei de que se encontrava entre nós o companheiro PAULO MATOS, de São Paulo, que era – e gostava de ser – um belo orador. Vale lembrado de que era filho de baiano. Para variar, também, as minhas “sugestão e recusa” não foram levadas em consideração. E lembravam de que ele se encontrava já sob os efeitos de algumas boas doses, o que, naturalmente, conduzia a alguns exageros.
Episódio
que voltava a ocorrer
Para não
decepcionar os companheiros com uma recusa irrecorrível, aceitei o encargo e,
naturalmente, transmiti às autoridades presentes, a partir do Prefeito
Municipal, o nosso reconhecimento pelo modo tão elegante com que nos haviam
recebido. E pela extrema gentileza de nos acolher com tanta afetuosidade num
belo jantar.
E a coisa
transcorria naturalmente com todos já em meio à refeição quando, de repente –
não mais do que “de repente” e – o mais exultante – de modo absolutamente
“surpreendente”, ouvimos aquele berrante vozeirão:
- Deem as mãos!!!...
Evidente de
que todos nós nos, até, assustamos. E o vozeirão repetiu:
- Deem as Mãos!!!!!!!......
Era a voz,
evidente, do Paulo Matos que, “moto contínuo” segurou as mãos dos seus vizinhos
dos lados. Claro que, ao percebermos a intenção do pedido, todos seguramos as
mãos dos que nos estavam juntos. E ele iniciou uma oração que levava como tema,
em verdade, o “Pai nosso!”. E, a
cada frase da oração discorria sua intenção de verbalizar.
Evidente
que, com o “correr da carruagem”,
e como todos nos encontrávamos em meio ao jantar, continuamos a degustar as
tantas iguarias. Logicamente, soltando as mãos dos nossos respectivos vizinhos.
O PAULO continuava na sua peroração. No entanto, ao perceber que todos nos
encontrávamos com as mãos destinadas a conduzir os talheres, “assustou-nos” com
outro berro bem sonante:
- “DÊEM AS MÃOS!!!!!!...... Eu não
falei?????...... DÊEM AS MÃOS!!!!!!!.......
Claro de que a surpresa era extravagante, sobretudo para o pessoal da
“terra”, que não o conhecia. Para nós – conquanto os berros nos houvessem
assustado – já o conhecíamos de “sobejo”. Realmente o vexame nos deixou, ao
lado de perplexos, um tanto envergonhados.
Mas o jantar acabou ocorrendo sem outras maiores alterações.
No dia seguinte, um domingo, todos levantamos para o café da manhã e a
despedida, pois iríamos – como ocorreu – retornar a Belo Horizonte. Já nos
reuníamos no salão de refeição do hotel, quando o Paulo, muito cabreiro, chegou
com a esposa (MARIA LUIZA). E um tanto envergonhado, sentou-se ao meu lado e de
TEREZA e confessou:
- Eu dei vexame, não foi CASAES?
Busquei tranquilizá-lo, até porque o fato já havia ocorrido e não
teríamos mais como o contornar.
Logo a seguir, todos embarcamos
no ônibus em demanda a “Belô”. O Paulo e a Maria Luiza foram se acomodar lá no
fundo do ônibus, ele ainda envergonhado com o vexame que causou na noite
anterior.
A certa altura, o LUIZ, um companheiro que se tornou muito nosso amigo,
e que era “relações públicas” de um hotel em Mariana, em
Minas Gerais mesmo (mas que procedia, originalmente, do Rio Grande do Norte) e
que nós, eu, Tereza, Carla e Helga, o havíamos apelidado de “LUIZ COSCOROBIL” - nem lembro mesmo porque – assomou ao
microfone do ônibus e começou a contar piadas. Até porque ele era um exímio
contador de piadas.
Só que, em certo momento, quando ninguém imaginava que algo similar
pudesse ocorrer, ele deu um verdadeiro berro:
- DÊEM AS MÃOS!!!!!!!!!
Escusado lembrar de que a risada ecoou por todo o ônibus, pelo
inesperado e hilário da intervenção.
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